segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Livro 'Dias com meu pai'

Do site do UOL


27/09/2010 - 07h00 / Atualizada 27/09/2010 - 07h00

Livro retrata últimos anos de convivência de fotógrafo com pai idoso

Tatiana Pronin
Editora do UOL Ciência e Saúde


Lidar com a morte e com o envelhecimento não é nada fácil. Mas a arte, em alguns casos, pode ser um caminho para absorver a realidade inexorável. Um bom retrato disso é o livro "Dias Com Meu Pai" (Ed. Alles Trade), do fotógrafo inglês Phillip Toledano, que trabalha em Nova York e é conhecido por suas imagens bizarras.
Depois de perder a mãe subitamente, em 2006, vítima de um aneurisma cerebral, Toledano decidiu registrar o tempo que lhe restaria de convivência com o pai. Apesar de não sofrer de Alzheimer, ele havia perdido a memória de curto prazo e perguntava pela esposa o tempo todo.
As fotos, acompanhadas de histórias e reflexões, foram publicadas em um blog até 2009, quando o pai do fotógrafo morreu, aos 99 anos, de velhice. O material foi visto por mais de 1,4 milhões de pessoas e ele recebeu mais de 20 mil comentários. "Foi uma experiência incrível, que fez com que eu me sentisse menos sozinho no mundo", conta o fotógrafo ao UOL Ciência e Saúde.
Segundo ele, a maior parte das mensagens enviadas era de agradecimento pela honestidade com que relatou sua experiência. Reações que, segundo Toledano, serviram de inspiração para transformar o projeto em livro e, de certa forma, lhe ajudaram a lidar com a dor da perda – no espaço de três anos, o fotógrafo vivenciou a morte não só dos pais, mas também de um tio e uma tia.
Para quem perdeu uma pessoa próxima, "Dias Com Meu Pai" pode ser comovente demais. Para quem não gosta nem de pensar na velhice, pode causar uma pontada incômoda. Mas é difícil não sentir essa gratidão, inexplicável, pelo trabalho de Toledano, ao folhear a última página do livro. Afinal, quem vai se safar do envelhecimento ou da morte?

"Dias Com Meu Pai"
Autor: Phillip Toledano
Editora: Alles Trade
Páginas: 92
Preço: R$ 55

Da Folha: Super condomínios e a noção de cidade

Oi !
Envio abaixo uma reportagem que saiu na Folha de SP hoje sobre um condomínio de super luxo em SP. As reportagens já indicam algumas questões que devem ser super interessantes para a antropologia da cidade.
Beijos

Daqui ninguém me tira
Moradores do condomínio Parque Cidade Jardim (zona sul), com apartamentos de até R$ 20 milhões, não precisam sair do complexo para ir a cabeleireiro, academia ou restaurantes e, contra as críticas de isolamento, dizem que o importante é a comodidade 

ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO 

Usar o elevador para ir à academia, ao cabeleireiro, ao veterinário e até ao restaurante preferido é a rotina de 70 famílias em São Paulo. Elas vivem em uma "minicidade dos sonhos" em plena marginal Pinheiros.
São moradores do Parque Cidade Jardim, condomínio acoplado ao shopping de alto luxo, de mesmo nome, na zona sul da capital paulista.
"Não dá para calcular o tempo que deixei de perder no trânsito", diz Deborah Quintella, 38, uma das primeiras a se mudar para uma das nove torres residenciais.
Desde então, a empresária deixou de ser "mãetorista" ao matricular os filhos Pietra, 2, Caio, 4, e Luca, 7, em aulas de circo, balé, natação e judô na academia do shopping. Pegam dois elevadores e caminham cinco minutos, mesmo tempo para ir ao cinema.
Antes, é preciso passar por procedimentos de controle -segurança virou paranoia desde os assaltos a duas joalherias entre maio e junho.
"Foi um baque", reconhece Luciano Amaral, diretor da JHSF Incorporações e síndico do condomínio.
Foram realizadas 14 assembleias para discutir um novo sistema de segurança, desenhado por uma consultoria inglesa. "Não vai ter igual no Brasil", alardeia o síndico. Ele precisa tranquilizar uma turma que paga até R$ 7.500 de condomínio.

ANTICIDADE
Comodidade e segurança são os pilares desse novo conceito de morar. O complexo Cidade Jardim alia em um mesmo espaço moradia, lazer, consumo e trabalho.
O megacondomínio é bombardeado por urbanistas. "Vai de encontro ao conceito de cidade, que é aberta a todos e serve como ponto de circulação e de encontro", critica Maria Lúcia Refinetti, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Para a urbanista, o Cidade Jardim é a "anticidade": "É fechado em si mesmo, privilegiando o convívio entre iguais e o consumo".
As críticas não ecoam entre os moradores. "Eu não vivo na bolha", diz o engenheiro Ernesto Filho, 32, que se mudou há um mês. Já a empresária Susana Pires, 58, trocou o Morumbi pelo complexo há seis meses e quer circunscrever sua vida cada vez mais ao complexo.
"Só vejo vantagem em viver aqui. A bateria do meu carro chegou a descarregar. Faço tudo a pé", diz. Ela ficou mais de 30 dias sem tirar o veículo da garagem.
Até trocou de cabeleireiro, depois de 20 anos. "Vou ao shopping três vezes por dia. Faço cabelo, passo no sapateiro e na lavanderia e compro presente de última hora."
A médio prazo, ela quer ter um escritório em uma das torres comerciais, que começam a ser entregues em 2011. Seu endocrinologista inaugura em breve uma clínica no spa do Cidade Jardim.
As colegas de escola de Juliana, 16, adoram visitar a casa da amiga, tendo como "quintal" corredores arborizados onde se perfilam vitrines de grifes como Hermès, Chanel, Louis Vuitton.
Com suas bolsas Tod's (R$ 3.800), Burberry (R$ 2.200) e Chanel (R$ 12 mil) em uma cadeira, as três fazem o lanche da tarde na Lanchonete da Cidade (R$ 118).
"Tenho cartão de crédito para pequenas despesas, mas para comprar mesmo só com autorização da minha mãe", conta a adolescente.

R$ 20 MILHÕES
A população no condomínio vive em um dos metros quadrados mais caros da cidade. A cobertura custa R$ 20 milhões. O apartamento mais barato, R$ 2,5 milhões.
Tudo ali é voltado para o público AAA. "Todo dia inventam uma novidade. Agora no hall temos um concièrge 24 horas para pedir uma pizza, um táxi. É um exagero", diz Deborah Quintella.
A empresária diverte-se ao contar que também pecou pelo exagero na festinha de aniversário do filho, inspirada em "Piratas do Caribe".
Levou bronca pela réplica gigante de um navio que recepcionou os convidados.
Novos serviços cinco estrelas estão em implantação. Acaba de ser inserido o "capitão porteiro" em duas torres -onde os moradores toparam pagar a mais para ter empregado na garagem para descarregar sacolas e malas.
Também é cotizado pelos condôminos uma van para levar os serviçais até o ponto de ônibus. "Eles tinham de andar muito", diz o síndico.
Outro ganho, enfatiza ele, é o empório recém-inagurado. "Faltava um lugar para comprar umas coisinhas", afirma, referindo-se a artigos de alta gastronomia.
Apesar dos requintes, moradores reclamam que foram esquecidos dois itens nos 72 mil² do complexo: padaria e campinho de futebol.

ANÁLISE 

Vida em único espaço atrapalha sociabilização das pessoas

ANA MERCÊS BAHIA BOCK
ESPECIAL PARA A FOLHA 

Viver em um espaço restrito tem sido uma preocupação importante para a psicologia, pois estudos têm demonstrado que há um empobrecimento psicológico e social quando a vida toda cabe em um espaço delimitado.
Seja ele um condomínio, um manicômio ou uma prisão.
Parte-se da ideia de que o desenvolvimento psíquico se dá na vida cotidiana.
As experiências do dia a dia, as relações sociais e o contato com a cultura de nosso tempo nos permitem um triplo processo:
De humanização (nos tornamos humanos à imagem e semelhança dos humanos adultos de nosso tempo), nos socializamos (nos apropriamos das especificidades da cultura de nosso lugar) e nos individualizamos (nos singularizamos).
Quanto mais rico é todo esse processo, melhores são os resultados em termos de desenvolvimento pessoal e coletivo.
A juventude é um momento rico, pois os sujeitos estão abertos ao novo, exatamente porque estão em busca da identidade adulta.
Querem conhecer, experimentar, testar, vivenciar na busca da construção de seus gostos, preferências, hábitos.
As metrópoles e seu cotidiano violento restringem o espaço da cidade, e os jovens têm sido as maiores vítimas desse processo.
Sejam aqueles que ficam presos nos condomínios e shoppings "seguros"; sejam os que não podem ultrapassar as linhas de entrada destes lugares. Todos perdem.
A restrição dos espaços pode ainda obrigar os jovens a uma mesma atividade, que se torna hábito e que repete uma mesmice empobrecida.
Por exemplo, consumir artigos supérfluos e consumir sem parar, sem que a necessidade se veja em algum momento satisfeita.


ANA MERCÊS BAHIA BOCK , 58, é psicóloga, professora de psicologia social e da educação na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), membro do Instituto Silvia Lane de Psicologia e Compromisso Social. Foi presidente do Conselho Federal de Psicologia e é autora de vários livros.


domingo, 26 de setembro de 2010

dica de livro

Música Popular: Do Gramofone ao Rádio e TV
São Paulo, Ática, 1981
autor: José Ramos Tinhorão

e pra quem gostar da parte dos jingles, alguns deles estão disponíveis na internet , no http://www.clubedojingle.com/jingles.htm

umas doideras


Queridos amigos, a internet é um lugar realmente impressionante
achei na rede umas coisas muito loucas e super dignas de compartilhar
uma delas é um calendário sexy-zumbi (pois é) para homens que gostam muito dessa história de zumbis, mas que não abrem mão de uma moça bonita: http://www.myzombiepinup.com/
esse outro é um imperdível. IMPERDÍVEL. cachorrinhos e gatinhos em fotos de yoga. hahahah http://yogadogz.com/buy_now.html
beijos!
=)

da folha



Olá amigos
algumas reportagens da Folha de hoje. Atenção para duas coisas coincidentes, em relação aos animais. Cachorros atropelados pelos metrôs de Sp para não atrasar a circulação, e o velho retrocesso de colocar bichos em exposição. Todo mundo ficou absurdado com a história do cachorro morrer em uma exposição (coisa que nem se provou se era verdade ou não) em uma Bienal na AL há pouco tempo. O nome da pessoa que organizou a coisa chamava Guillermo Habacuc. Agora, Nuno Ramos coloca três urubus na Bienal de SP. Sobre o pichador que escreveu 'Libertem os urubus", diz que está chateado, que arte é diálogo, e que não está revoltado. Enquanto isso, Emilio Kalil, produtor executivo da mostra disse que o que aconteceu foi um ato de vandalismo. Ou seja, dois completos idiotas, apoiando uma obra irresponsável, e bem protegidos pelo sistema de Bienal. Se arte é diálogo, Ramos esqueceu de colocar o urubus na conversa antes de expo-los como objetos na Bienal.  (http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/7046)
Beijos
Luisa
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26/09/2010 - 09h22

"Xingu", de Cao Hamburger, refaz a saga dos irmãos Villas Bôas

LAURA MATTOS
ENVIADA ESPECIAL A PALMAS (TO)

A 40 quilômetros de Palmas, capital do Tocantins, no meio do mato, o sol queima a mais de 40º e os carrapatos não respeitam nem a parte mais íntima dos homens. O banheiro é daqueles químicos e o chuveiro improvisado cheira à privada entupida.
Nesse cenário, uma pergunta não quer calar: cadê o glamour do cinema?
Está "nas imagens incríveis", nas palavras do diretor Cao Hamburger, captadas nessa e em outras remotas locações de seu novo filme.
Beatriz Lefèvre/Divulgação
João Miguel, Felipe Camargo e Caio Blat filmam em São Félix, no Jalapão (TO), cena com o índio Yotomai Ywalapiti
João Miguel, Felipe Camargo e Caio Blat filmam em São Félix, no Jalapão (TO), cena com o índio Yotomai Ywalapiti
"Xingu", cujas filmagens terminam no próximo domingo e o lançamento será em 2011, reconstitui a vida épica dos irmãos Villas Bôas na exploração de matas virgens do oeste brasileiro, a partir dos anos 1940.
Na semana passada, Hamburger e sua equipe, da produtora O2, chegaram ao Parque Indígena do Xingu, onde ficam hospedados em ocas, até a próxima terça. Idealizada pelos Villas Bôas, a reserva foi inaugurada em 1961 e tem hoje cerca de 5.000 índios de 14 diferentes etnias.
O diretor está na oca de Macawana, pai dos índios selecionados para o longa.
Levanta ao raiar do sol, come biju com mel ("delícia") e começa o trabalho com os índios. "Tenho experiência com atores de primeira viagem. Os índios são incrivelmente concentrados e têm facilidade em entrar no jogo da interpretação. Também estão orgulhosos em contar a história de seus avós", afirmou.
Já para o papel dos três irmãos protagonistas, o diretor escolheu atores experientes. Felipe Camargo será Orlando (1914-2002), João Miguel, Cláudio (1916-1998), e Caio Blat, Leonardo (1918-1961).
Editoria de Arte / Folhapress/Editoria de Arte / Folhapress
Os irmãos Villas Bôas
Na semana retrasada, a Folha acompanhou, perto de Palmas, a cena em que Cláudio e Leonardo, filhos de uma família de classe média, fingem ser sertanejos a fim de conseguir vaga na expedição organizada pelo governo para explorar o oeste.
Caio Blat e João Miguel aguentaram o calor por quase 12 horas em mais um dia duro desse trabalho, que começou bem antes das filmagens, no início do ano, quando o diretor os mandou para um "internato" no Xingu.
"Foi importante ver que eles têm TV de plasma, internet, que estão no Orkut e conseguem manter a mesma cultura, com a economia de subsistência", conta Blat.
Para chegar ao parque, os dois ficaram em um barco por mais de 12 horas.
Lá, diz Blat, a sensação é de uma viagem no tempo. "Aquelas ocas de palha... Parece outro planeta. O cheiro da aldeia é doce, de urucum, pequi. O céu tem uma quantidade absurda de estrelas. Vi três estrelas cadentes seguidas", afirma o ator.
Veja entrevistas dadas à Folha, com edição da O2:
ÉRAMOS TRÊS
Após três meses em longínquas locações, as filmagens se encerram nesta semana em São Paulo, onde os irmãos Villas Bôas deixaram as facilidades da vida urbana para se embrenhar no mato e no complexo e arriscado contato com índios isolados.
O orçamento da produção, de R$ 14 milhões, já teve 70% de seu valor captado por meio de leis de incentivo.
O projeto começou quando Noel, filho de Orlando, procurou Fernando Meirelles com o livro "Marcha para o Oeste", de seu pai e do tio Cláudio. O dono da O2 viu que dava um filme e chamou para dirigi-lo Hamburger, do premiado "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias".
"Além do livro, fizemos grande pesquisa para não contar uma história oficial. Meu recorte foi o do aspecto pessoal desses três irmãos que escolheram uma vida tão dramática", diz o diretor.
A jornalista LAURA MATTOS viajou a convite da produtora O2

Operador de metrô diz ter de ignorar cão para evitar atrasos
Reclamação de associação enviada à Promotoria relata pressão para seguir viagem mesmo com animal na via

Orientação informal se deve, diz entidade, à saturação do sistema; queixa é investigada em inquérito policial 

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO

O metrô de São Paulo está tão saturado que não há margem para qualquer tipo de atraso -nem para esperar um cachorro sair dos trilhos. O relato é de operadores de trens que dizem ser pressionados a seguir viagem até estando diante de animais.
A queixa foi encaminhada ao Ministério Público em abril e motivou a abertura do inquérito policial 397/10 para investigá-la na Delegacia de Crimes Ambientais.
Por trás da polêmica está a operação no limite de uma linha do metrô que ficou parada mais de duas horas na terça passada, levando milhares de passageiros a sair dos trens e caminhar nos trilhos.
Os trens dessa linha, a 3-vermelha, têm intervalos de só cem segundos nos picos, um dos menores do mundo.
Qualquer imprevisto que aumente a demora basta para provocar um caos em plataformas e vagões -que já abrigam hoje dez usuários por m2, contra um índice aceitável de até seis por m².
Diante desse cenário, é frequente a ordem do CCO (Centro de Controle Operacional) para seguir viagem mesmo quando há bichos na frente, segundo três operadores com quem a Folhafalou.
"[O Metrô] reiteradas vezes tem desrespeitado a legislação ambiental ao determinar e mesmo pressionar os operadores de trens para que atropelem cachorros que estejam nas vias", diz um trecho da representação da Associação dos Operadores de Trem do Metrô protocolada na Promotoria em 20 de abril.
A entidade, fundada em 2009 e desvinculada do sindicato dos metroviários, afirma que a ordem não consta de procedimentos formais -mas, para evitar atrasos, é dada por parte dos chefes.
Segundo eles, alguns operadores se negam a seguir viagem com animais na via, mas acabam advertidos.

BRECHAS 
Cachorros costumam entrar nos trilhos tanto por brechas em muros como pelas estações -na última quinta, a Folhapresenciou animais na Corinthians-Itaquera.
Há quem reconheça que não se pode ameaçar a segurança de passageiros nos vagões com freadas repentinas. Mas, segundo a representação, a orientação é passada após a parada dos trens -quando um condutor alerta para a impossibilidade de prosseguir devido a cães.
Em vez de deslocar algum funcionário da estação para retirar os bichos, dizem eles, a prioridade é não perder tempo e avançar -em atropelamentos que nem são registrados pela empresa.
O Metrô foi procurado no meio da tarde da última sexta, mas alegou que não responderia devido ao horário.
Os operadores prepararam um relatório com abaixo-assinado relatando a queixa à companhia no fim de 2009.
No começo deste mês, a presença de três cachorros nos trilhos da estação Sacomã, da linha 2-verde, foi filmada por um usuário durante a aproximação de um trem, conforme vídeo veiculado no YouTube. O relato de atropelamento foi parar no Ministério Público Estadual.
Jovens procuram "som alucinógeno" em redes sociais
Músicas, ou "drogas digitais", prometem uma sensação semelhante àquela provocada por entorpecentes

Essas "substâncias" poderiam estimular a imaginação ou, ainda, reavivar lembranças de uso de drogas 

DIANA BRITO
DO RIO

Computador, fones e disposição para escutar sons desconexos é a combinação que tem atraído jovens a sites e redes sociais que ofertam as chamadas "músicas alucinógenas", que prometem sensações semelhantes as provocadas por drogas.
Na Europa, os arquivos sonoros -vendidos em "doses" de 15 a 30 minutos- são conhecidos há alguns anos como "drogas digitais".
Moradora de Nova Iguaçu, no Estado do RJ, a estudante Renata Ibrahim, 23, diz que as músicas funcionam.
"Tive uns sonhos muito esquisitos", diz ela, que baixou músicas com referências a absinto, maconha e cocaína.
O estudante paulistano R. A., 17, diz que abandonou a prática porque passou a sofrer com dores de cabeça.
"Eu me vi correndo numa floresta sombria", conta.
Vindas dos EUA, essas músicas podem ativar a parte cerebral ligada à memória, o que estimularia a imaginação ou lembranças de uso de drogas, segundo o psiquiatra Jorge Jaber, especialista em dependência química e diretor da Associação de Psiquiatria do Estado do Rio.
"[A música] Pode desencadear, por exemplo, o desejo de utilizar a droga, mas pode excitar também memórias".
Para Pedro Pereira, pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o mais provável é que os arquivos sejam "drogas de mentira, com resultados provenientes de autoindução".
Segundo Antonio Cabral, advogado especialista em direito digital, as "substâncias" não são ilegais e não há comprovação de que viciem.
"A estimulação contínua pode causar alterações a longo prazo, transtornos ou ansiedade", diz o psicopedagogo Hilson Cunha Filho, da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal.
Filme foi brincadeira, diz Oswaldo Montenegro
"Léo e Bia" foi visto por 206 pessoas em SP no último fim de semana

"Sou acusado de ter uma estética hippie. Mas aí penso: "Tenho mesmo". O que eu posso fazer se tem gente que detesta?"
ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

"Foi ruim, né?", afirma, sem uma ponta de surpresa ou frustração no olhar, Oswaldo Montenegro, 54.
A observação do cantor diz respeito aos 206 espectadores que assistiram ao seu filme, "Léo e Bia", no final de semana passado, quando estreou em apenas uma sala de cinema em São Paulo.
Decepção? "Não, eu não imaginava nada. Não tenho expectativas precisas em relação a nenhum projeto que faço", diz o artista que, há décadas, conhece os altos e baixos, os adjetivos que vão do "genial" ao "imbecil".
"Claro que torço por tudo que faço, mas sempre me pautei por uma saudável irresponsabilidade", insiste, com uma modulação na voz que faz jus à fama de hippie.
Na semana seguinte ao lançamento de seu primeiro filme, Montenegro recebeu a Folha no café de um hotel, em São Paulo.
Entre cigarrilhas Phillies e Coca-Cola light, mostrou que, mais do que qualquer um de nós, conhece de trás para a frente as piadinhas e críticas que o cercam.
Mas nada parece abalar Oswaldo Montenegro. Pior cantor do Brasil? Idiota? Hippie chato?
"O artista não tem que conseguir unanimidade. Sou acusado de ter uma estética hippie. Mas aí penso: "Tenho mesmo". O que eu posso fazer se tem gente que detesta? Tem gente que adora também. Divirto-me um pouco com isso", diz, com a moral de quem, há três décadas, lota shows pelo Brasil.

CABELO
Até para evitar que pegassem no seu pé, o cantor fez "Léo e Bia" com dinheiro do próprio bolso, sem usar leis de incentivo.
"Não me considero um cineasta. Quis fazer uma experiência audiovisual, uma brincadeira formal", explica.
O filme, que começa com um grupo de teatro deitado no chão, fumando maconha, leva à tela um musical da década de 1980.
Como muitas coisas de Montenegro -e como ele próprio-, "Léo e Bia" tem um quê de obra datada e... hippie. É, no entanto, absolutamente original.
Talvez por isso tenha entusiasmado o público e parte da crítica no Festival de Cinema de Recife no primeiro semestre deste ano.
"Como sempre, não esperava nada, até porque, na vida, já li coisas do tipo: "Gosto da sua música, mas não suporto seu cabelo". Fiquei contente com a reação ao filme", afirma ele.
A fala de Montenegro tem um quê dos seus versos. "...É como se eu não percebesse nada/ Liga não, é coisa de cantor", canta ele em "Fado Doido".
Já em "Bandolins", Montenegro parecia preconizar a sina de ser sempre meio fora de moda: "E como se não fosse um tempo/ Em que já fosse impróprio/ Se dançar assim/ Ela teimou e enfrentou o mundo/ Se rodopiando/ Ao som dos bandolins".
Rodopiando sem ligar para o mundo, Montenegro diz que, no seu trabalho, o que tem valor mesmo é quando sabe que sua canção "fez companhia a alguém".
No mais, acha que gigantes, na música, foram Villa-Lobos, Bach, Mozart. "A catedral foi feita por eles. A gente faz só canções."


Ilustrada

Pichador ataca obra com urubus na Bienal
Frase "libertem os urubu" foi pichada em obra do artista Nuno Ramos

Houve pancadaria entre seguranças e visitantes que apoiavam o pichador, que foi detido e levado a delegacia
Mateus Bagatini/Folhapress
Instalação de Nuno Ramos após ato de pichador ontem, dia de abertura para o público; obra foi restaurada em seguida

JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Um pichador invadiu o viveiro de urubus montado no pavilhão da Bienal ontem à noite e pichou a frase "libertem os urubu" (sic) numa das estruturas de areia socada que sustentam as aves.
Aberta ontem para o público, a 29ª Bienal traz a instalação do artista Nuno Ramos, com três urubus vivos. Os animais não foram afetados.
O tumulto ontem no pavilhão começou por volta das 18h, quando uma dezena de ativistas da ONG Animais da Aldeia começou a circular pelo prédio gritando palavras como: "Bienal, cadê você? Os urubu vão morrer!".
O autor da ação, Djan Ivson, foi detido e levado à 36ª DP, na Vila Mariana. Com a invasão, houve pancadaria entre seguranças e visitantes que apoiavam o pichador. A Polícia Militar entrou no prédio numa ação com dez homens e uma viatura.
Visitantes reclamaram da truculência dos seguranças. Uma garota diz ter levado um tapa no rosto. "Quase me mataram e me enforcaram, e depois me jogaram para fora [da Bienal]", disse Ivson.
"Não vi nada disso", disse o produtor executivo da mostra, Emilio Kalil. "Houve um ato de vandalismo e estamos tomando as providências."
"Não vou prestar queixa. Quero esse cara solto", disse o artista Nuno Ramos após o incidente. "O mundo da cultura é o do diálogo, não estou revoltado, estou triste."
A Bienal diz que não fará mudanças na segurança. Ivson não passou pelo detector de metais, já que tem crachá de artista -ele faz parte do grupo Pixação SP, convidado pela própria Bienal.
"Não me arrependo de jeito nenhum de ter convidado eles", disse o curador Agnaldo Farias. Há dois anos, um grupo pichou as paredes do andar que havia sido deixado vazio pela curadoria.