quarta-feira, 18 de maio de 2011

Bribespot - localizador de subornos

A proeza apareceu em abril deste ano, na Estônia. Foi o resultado de um dos grupos que participavam do evento Garage48, que cria situações de encontro entre pessoas com os mais diversos talentos (desenvolvimento de softwares, marketing, administração, design, etc.) para a concretização de uma idéia em até 48 horas.





O grupo, com as mais diversas origens (Lituânia, Estônia, Irã e Finlândia), decidiu então criar um aplicativo onde pessoas pudessem postar (e localizar) situações de suborno pelas quais já tinham passado. Dessa forma, sabemos que um indivíduo (todo o processo é anônimo) que voltava do Malawi para a Zâmbia teve que pagar um suborno de $300,00 para entrar no país; na Romênia, outro, pode pagar $1000,00 para ser aprovado em um exame universitário; e na Índia, um outro, $100,00 para se livrar de uma multa por falar ao celular enquanto dirigia.

A este aplicativo deram o nome de Bribespot (Bribe, de suborno; spot, de ponto/lugar). Com ele, os criadores pensaram não em descobrir o país mais subornável do mundo, mas sim, criar situações de denúncia anônima que criem um movimento internacional contra corruptíveis - sejam esses intituições ou pessoas.

O envio de dados pode ser feito no próprio website do aplicativo, assim como nos apps para Android e iPhone (em breve). O usuário pode detalhar o lugar exato do suborno, a situação e a quantidade paga, assim como conferir a existência e os tipos de suborno nas redondezas em que se encontra.

Neste exato momento, 18 de maio às 20:40, não havia ainda nenhuma ocorrência de suborno para o Brasil e toda a América Latina. Com a divulgação do Bribespot, os números tendem a mudar....

domingo, 15 de maio de 2011

Mais um de ET

Como lidar com a alteridade? Talvez porque respondam a essa pergunta que filmes com temática extraterrestre causem tanto fascínio. Afinal, eles nos trazem diversas possibilidades, que não raro reverberam na condição de trato com "o outro" menos extremado - como imigrantes, por exemplo. O filme Distrito 9, de 2009, escancarou a analogia , e pudemos ver nas telas brasileiras, ainda que por pouco tempo, a metáfora explicitada. 

O mesmo não aconteceu com o filme Monsters, de 2010, com direção de Gareth Edwards, que não estreou nas salas de cinema por aqui. Em suma, a história se passa nas seguintes condições:  Há menos de uma década, a NASA descobriu a possibilidade de vida extra-terrestre no sistema solar. Foram coletadas amostras para comprovação, mas, quando a sonda espacial voltava à Terra, houve um acidente que fez com que ela se rompesse no território mexicano fronteiriço ao EUA. Depois de algum tempo, formas estranhas de vida começaram a surgir. Uma área correspondente a metade do México foi posta como Zona Infectada, e proibida a circulação de pessoas. 

Desta forma, as proximidades e a própria ZI passam a viver em constante tensão. As forças militares americanas e mexicanas tentam conter as criaturas dentro do limite estipulado, através de bombas e armas químicas. Porém, muitas vezes, as empreitadas acabem vitimando também seres humanos que vivem em áreas adjacentes.   

É a necessidade de ir do México para os EUA que mobilizam os dois personagens principais a atravessarem a ZI, e correr o risco de contato com os extraterrestres. Criaturas mostradas no filme com refletida parcimônia, pois o interesse não é o de imaginar como as elas lidam com os homens, mas como os homens lidam com as criaturas e com eles mesmos. 

A produção ganhou certa repercussão na Inglaterra e nos EUA porque, além de ser um filme de baixo orçamento (custou por volta de $800,000, segundo o IMBD), também foi filmado com base na improvisação. Apenas os protagonistas são atores profissionais, e mesmo assim, as cenas foram filmadas dando-lhes apenas linhas gerais de ação, sem falas fixas. Aparentemente, também haverá uma continuação (que tende já a ser milionária), mas com outra direção.

Ótimo filme, entusiasticamente recomendado. Abaixo, uma mini-entrevista com o diretor Gareth Edwards, feito para o festival de cinema de Toronto.


domingo, 8 de maio de 2011

A arte na mecânica do movimento

Quem conhece o circuito de exposições de São Paulo já sabe: a Galeria de Arte do Sesi ( Av. Paulista, 1313- Metrô Trianon-Masp) tem a ótima qualidade de apenas promover mostras de objetivo bem definido, e que por isso conseguem desenvolver sua proposta de forma aprofundada. Dessa vez não foi diferente. O amplo espaço expositivo do prédio dá espaço a "A arte na mecânica do movimento", um projeto do historiador Lucas Bittencourt em parceria com a municipalidade da cidade de Sainte-Croix (Suíça). 

Lucas Bittencourt é na verdade, Lucas Bittencourt Gouveia, um historiador misterioso, que não atualiza seu Lattes desde 2008, e que defendeu na USP, em abril de 2010, a tese de mestrado em História Social ": "Par penitence les cumandet a ferir: a legitimação do combate contra os pagãos na Chanson de Roland e na Chanson de Guillaume". Uma explicação de como ele se enveredou para a organização da exposição não é clara (pelos caminhos de pesquisa online, pelo menos), mas, em uma reportagem  do site Guia da Semana, nos é informado que a idéia veio com uma visita do historiador à cidade de Sainte-Croix.

Sainte-Croix é uma pequena cidade suíça - localizada na fronteira com a França e com pouco mais de 4.500 habitantes - que abriga o CIMA: Centre International de la Mécanique d'Art. No site do museu, algumas informações: A instituição foi aberta em 1985, e expõe ao público caixas de música, autômatos, pássaros-cantores, entre outros objetos. A relevância de tal acervo é que ele é uma amostra de todo um conjunto fabricado nessa cidade desde o século XIX, que prima pelo conhecimento técnico e mecânico.  

Uma rápida visita ao site deixa evidente que a exposição em São Paulo é nada mais nada menos do que um conjunto resumido do que é apresentado em Sainte-Croix. Ainda bem! Por isso, o visitante tem contato com obras que vão desde a metade do século XIX até 2010, construídas por mestres da técnica-mecânica que nos recordam que a arte é mais do que uma idealização, é o trabalho com o material e a concretização física de idéias...

É uma emoção indescritível, por exemplo, ver uma caixa de música de 1850, totalmente mecânica, tocar em alto e bom som para o que veio. Um autômato de cabelos desgrenhados assustadoramente dançar para os seus olhos, e um piano funcionar apenas com seus pedáis...Além, é claro, dos passarinhos de corda que não só cantam alegremente (via um mecanismo de foles), mas também abrem o bico, balançando as asas e  o rabo...


Um vídeo do youtube (que não está relacionado à exposição), que mostra o funcionamento das caixas de música de cilindro. 



Outro vídeo, de um passarinho-cantor, mas produzido há pouco tempo atrás pela empresa Reuge, também com obras presentes na exposição.


Porque esse fascínio? Ainda que admitindo que certas razões se expliquem individualmente, é possível sugerir algumas explicações. Sem dúvida, o caráter técnico salta aos olhos, assim como a possibilidade de tanta complexidade sendo produzida artesanalmente, sem a utilização de recursos como a energia elétrica. As caixas de música expõe ao visitante parte de sua mecânica, e sua precisão e permanência (porque elas ainda tocam muito bem, obrigada) impressionam. Difícil não se perguntar: "Como foi possível alguém conseguir construir isso?". Um sentimento parecido (senão igual) ao descrito pelo antropólogo Alfred Gell em relação às proas melanésias, no texto: The Technology of Enchantment and the Enchantment of Technology

Mais do que isso, as peças fascinam porque ficam no meio termo entre o compreensível e a 'caixa-preta', para fazer uso do termo do filósofo Vilém Flusser. Ou seja, embora tenham um mecanismo de difícil apreensão, esse ainda é, na maior parte das vezes, visível e decifrável. Por essa mesma razão, estimulam a pensar sobre eles, e no jogo de quebra-cabeça que implicam.

Em suma: Exposição imperdível e única. Não é do tipo que depois se acha reprodução na internet, ou outra montagem parecida no centro-cultural mais próximo. Um estímulo : Em junho todas as peças voltam pra Suíça e sabe-se lá quando (ou se) voltarão ao Brasil. Uma dica: Grude nos monitores. Eles são hiper simpáticos, além de serem as únicas pessoas que podem fazer as máquinas funcionarem, literalmente.Um pecado: Nesta visita, passei correndo na parte contemporânea da exposição, pois estava atrasada para um compromisso. Por isso os comentários-zero dessa seção. Mas pretendo voltar, e completar o relato... 

Informações sobre a exposição (do site da FIESP):

Informações
LocalGaleria de Arte do SESI – Centro Cultural Fiesp-Ruth Cardoso - Av. Paulista, 1313- Metrô Trianon-Masp
Temporada19/04 a 26/06/2011
Segunda a domingo
HorárioSegunda-feira, das 11h às 20h
Terça a sábado, das 10h às 20h
Domingo, das 10h às 19h
IngressosEntrada franca
TelefonesSegunda a sexta-feira, das 10h às 13h e das 14h às 17h
pelo telefone (11) 3146-7439
Indicação Etária 
Evento livre para todos os públicos