" Eu sou o gato macaco, gato macaco, gato macaco..." Uma homenagem pouco discreta à gata da família, mas também alguns recortes para quem se interessa sobre antropologia
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
moda de dilma
Sem apelar para uniforme, Dilma tem visual consagrado por estilistas
VIVIAN WHITEMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Começou em pé de guerra e terminou em consagração o "ano fashion" da presidente Dilma Rousseff.
No dia da posse, muitos esperavam dela um modelo alinhado em vermelho-PT. Outros insistiam que ela vestisse algo assinado por uma das grandes grifes brasileiras. Contrariando a todos, apareceu num conjunto branco assinado por sua amiga Luisa Stadtlander, modista gaúcha até então desconhecida.
Veja galeria de fotos das roupas usadas por Dilma
A presidente, com muita habilidade, soube virar esse jogo ao longo de 2011. Nunca botou a roupa em primeiro plano, não apelou para nenhum tipo de "uniforme" repetido em série e não precisou vestir marcas de luxo nacionais ou estrangeiras para demonstrar seu apoio ao mercado de moda e ganhar a confiança do setor.
Reuters/Folhapress/Efe | ||
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Modelos usados por Dilma Rousseff durante o ano; clique para conferir os estilos da presidente |
Manteve Luisa como sua estilista oficial e seguiu em frente. Quando teve chance de falar sobre suas roupas, deixou sempre claro que é uma mulher sem muita paciência para emperiquitações no visual e que preferia ser assessorada por uma senhora que compreendia esse traço de sua personalidade, deixando-a segura.
Aos poucos, os conjuntos foram ficando menos sisudos. Mais relaxada, a dupla de amigas investiu em pequenas mudanças, sem trair o jeitinho da presidente.
Mas o ponto áureo do ano foi o discurso de Dilma na ONU. Luisa não é nenhum Alexandre Herchcovitch no quesito criatividade, evidente, mas tem seus momentos de brilho simbólico.
Vestiu Dilma de renda suíça azul para o compromisso nas Nações Unidas. Não o branco óbvio da falsa e hipócrita promessa da paz universal, mas um azul de céu que promete abrir em sol.
E a renda, tecido símbolo da transparência elegante. Foi a transparência (não a da renda, mas a da política) um dos aspectos mais comentados pelos brasileiros que deram a Dilma índices recordes de aprovação nesse primeiro ano de governo.
As revistas mais importantes do mundo e, durante a última temporada de desfiles em Nova York, o estilista brasileiro Francisco Costa, diretor de criação da Calvin Klein e um dos papas da elegância mundial, elogiaram o porte e os looks da presidente. Muitos outros fizeram coro.
Assim, com muita discrição e habilidade na costura, Dilma driblou um certo esnobismo dos fashionistas, as maledicências dos machistas e a patrulha dos que acham que uma mulher em cargo de poder deve se vestir como um general truculento.
Durona sem perder a ternura, Dilma terminou 2011 levando o Brasil ao título de sexta maior economia do mundo sem perder o rebolado no modelo. Como diria a irônica Luisa (não a Stadtlander, mas a famosa Marilac): "e houve boatos de que ela estaria na pior"
domingo, 25 de dezembro de 2011
Internet, esse mundo mágico
50 ferramentas gratuitas
Cursos e programas para alavancar a carreira em 2012
(...)
CURSOS
Finanças e gestão
BM&FBovespa
Oferece cursos sobre o mercado de finanças
www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/cursos/cursos.aspx?idioma=pt-br
Esag
Disponibiliza treinamentos on-line sobre temas como gestão, design e negócios
esag.edu.br/atualizacao/online.html
Fundação Bradesco
Oferece cursos on-line em áreas como administração financeira
ev.org.br
FGV Online
Tem cursos virtuais em finanças, empreendedorismo e direito
www5.fgv.br/fgvonline/CursosGratuitos.aspx
Serpro
Possui treinamentos de comunicação e administração do tempo
serpro.gov.br
Tecnologia
Centro de computação da Unicamp
Permite a participação de profissionais em aulas virtuais sobre informática
ggte.unicamp.br/minicurso
Ciee
Disponibiliza treinamento sobre a linguagem HTML
www.ciee.org.br/portal/estudantes/parceiros/index.asp
Direito
Instituto Euvaldo Lodi Disponibiliza diversos cursos on-line como marketing pessoal e
legislação trabalhista
www.iel.org.br
Instituto Legislativo Brasileiro
Possui treinamentos variados, entre eles, administração pública e processo legislativo
www.senado.gov.br/sf/senado/ilb/asp/ED_Cursos.asp
Idiomas
BBC
Publica notícias em inglês e explica a definição das palavras mais difíceis da língua
www.bbc.co.uk/portuguese/topicos/aprenda_ingles
Bom Espanhol
Oferece aulas virtuais com textos, listas de verbos e áudio para aprendizado do espanhol
bomespanhol.com.br
DeutscheWelle
Tem curso de alemão por meio áudios, videos e podcasts
dw-world.de/dw/0,,2594,00.htm
Francoclic
Possui curso de francês com recursos como vídeos, fotos e textos
francoclic.mec.gov.br
Educação
Fundação Cecierj
Permite a participação em cursos de educação superior a distância
cederj.edu.br/fundacao
Unicamp
Disponibiliza o conteúdo dos cursos ministrados nas disciplinas de graduação
ocw.unicamp.br
Estrangeiros
Universidade Standford (em inglês)
Curso variados nas áreas de humanas, exatas e tecnologia
itunes.stanford.edu/rss.html
Universidade da California (em inglês)
Cursos em vídeo em humanas, exatas, tecnologia da informação e engenharia
webcast.berkeley.edu
Instituto Ludwing von Mises (em inglês)
Disponibiliza cursos em áudio pela internet sobre economia e finanças
mises.org/media/category/168/168
MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts; em inglês)
Cursos virtuais nas áreas de humanas, exatas e biológicas
ocw.mit.edu/index.htm
Open Yale Courses (Cursos Abertos de Yale; em inglês)
Oferece aulas de economia, biomedicina, química, entre outras, pela internet
oyc.yale.edu
(...)
SOFTWARES
Evernote
Consiste em serviço de lembrete automático
evernote.com
Finance Desktop
Funciona como gerenciador financeiro pessoal
financedesktop.com.br
(...)
domingo, 11 de dezembro de 2011
reativando o blog
Museu lança acervo on-line com registros de imigração
CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO
Um documento de caligrafia floreada, de 1893, atesta que cinco membros da família italiana Zoli chegaram ao país pelo porto de Santos.
Ele é parte do acervo, digitalizado ao longo dos últimos sete meses, do Museu da Imigração e do Arquivo Público do Estado. O banco de dados, lançado nesta semana, está disponível para download gratuito no site www.museudaimigracao.org.br.
São 87 mil registros de cartas, fotos, mapas, jornais e documentos de quem chegou a São Paulo subsidiado pelo governo da época.
Eles passaram pela hospedaria, que recebeu 2,5 milhões de imigrantes, entre 1887 e 1978, principalmente italianos e portugueses.
Sebastião Zoli Júnior, 48, pesquisa a família desde 1989, mas só agora teve em mãos documentos históricos. Ali está seu bisavô Girolamo (Gerônimo) Zoli, então com 23 anos, vindo de vapor da província de Ferrara, norte da Itália, indo para Capivari (SP), trabalhar com café.
Fábio Braga/Folhapress | ||
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Sebastião Zoli Junior, 48, descobriu registros sobre a chegada de seu tataravo ao Brasil, com mulher e três filhos |
"Para a gente que é descendente é até emocionante", afirmou ele, que é conselheiro do Comites (Comitê dos Italianos no Exterior).
"No histórico do vapor pode ter cartas, anotações, posso descobrir se alguém morreu no caminho", aposta Zoli, que "perdeu" um L do sobrenome quando o funcionário da hospedaria anotou o nome de seu tataravô Giulio no registro de matrículas.
Para o historiador e genealogista Virginio Mantesso Neto, o site é importante para pesquisadores e familiares por trazer documentos que eram restritos, mesmo na biblioteca do Arquivo Público.
Um problema que ele aponta é no sistema de buscas do site, que não permite procurar nome e sobrenome de uma vez. Quem for pesquisar nomes comuns como Giovanni terá trabalho: há 26.364 registros de matrícula.
Carlos Bacellar, coordenador do Arquivo Público, órgão contratado para criar o site e digitalizar os documentos, diz que o sistema de buscas pode ser aperfeiçoado.
Mas diz que o site vai facilitar o trabalho das famílias que buscam seus antepassados para pedir certidões e tentar dupla cidadania.
O projeto foi financiado pela Secretaria de Estado da Cultura, por R$ 200 mil, que também banca a reforma de R$ 7,5 milhões para transformar o prédio que abrigou a hospedaria e, mais tarde, o novo Museu da Imigração.
Para o secretário de Cultura, Andrea Matarazzo, o instrumento preserva documentos antigos e democratiza o acesso da população a eles.
"A sociedade pode reconhecer suas origens e sentir a importância que a imigração teve no desenvolvimento de São Paulo", diz.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Alguns gifs em homenagem a tito e Inácia
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Bribespot - localizador de subornos
O grupo, com as mais diversas origens (Lituânia, Estônia, Irã e Finlândia), decidiu então criar um aplicativo onde pessoas pudessem postar (e localizar) situações de suborno pelas quais já tinham passado. Dessa forma, sabemos que um indivíduo (todo o processo é anônimo) que voltava do Malawi para a Zâmbia teve que pagar um suborno de $300,00 para entrar no país; na Romênia, outro, pode pagar $1000,00 para ser aprovado em um exame universitário; e na Índia, um outro, $100,00 para se livrar de uma multa por falar ao celular enquanto dirigia.
A este aplicativo deram o nome de Bribespot (Bribe, de suborno; spot, de ponto/lugar). Com ele, os criadores pensaram não em descobrir o país mais subornável do mundo, mas sim, criar situações de denúncia anônima que criem um movimento internacional contra corruptíveis - sejam esses intituições ou pessoas.
O envio de dados pode ser feito no próprio website do aplicativo, assim como nos apps para Android e iPhone (em breve). O usuário pode detalhar o lugar exato do suborno, a situação e a quantidade paga, assim como conferir a existência e os tipos de suborno nas redondezas em que se encontra.
Neste exato momento, 18 de maio às 20:40, não havia ainda nenhuma ocorrência de suborno para o Brasil e toda a América Latina. Com a divulgação do Bribespot, os números tendem a mudar....
domingo, 15 de maio de 2011
Mais um de ET
domingo, 8 de maio de 2011
A arte na mecânica do movimento
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quinta-feira, 28 de abril de 2011
O homem de cabeça de papelão
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No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social.
O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os habitantes afluíam todos para a capital, composta de praças, ruas, jardins e avenidas, e tomavam todos os lugares e todas as possibilidades da vida dos que, por desventura, eram da capital. De modo que estes eram mendigos e parasitas, únicos meios de vida sem concorrência, isso mesmo com muitas restrições quanto ao parasitismo. Os prédios da capital, no centro elevavam aos ares alguns andares e a fortuna dos proprietários, nos subúrbios não passavam de um andar sem que por isso não enriquecessem os proprietários também. Havia milhares de automóveis à disparada pelas artérias matando gente para matar o tempo,cabarets fatigados, jornais, tramways, partidos nacionalistas, ausência de conservadores, a Bolsa, o Governo, a Moda, e um aborrecimento integral. Enfim tudo quanto a cidade de fantasia pode almejar para ser igual a uma grande cidade com pretensões da América. E o povo que a habitava julgava-se, além de inteligente, possuidor de imenso bom senso. Bom senso! Se não fosse a capital do País do Sol, a cidade seria a capital do Bom Senso!
Precisamente por isso, Antenor, apesar de não ter importância alguma, era exceção mal vista. Esse rapaz, filho de boa família (tão boa que até tinha sentimentos), agira sempre em desacordo com a norma dos seus concidadãos.
Desde menino, a sua respeitável progenitora descobriu-lhe um defeito horrível: Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira. Alarmada, a digna senhora pensou em tomar providências. Foi-lhe impossível. Antenor era diverso no modo de comer, na maneira de vestir, no jeito de andar, na expressão com que se dirigia aos outros. Enquanto usara calções, os amigos da família consideravam-no umenfant terrible, porque no País do Sol todos falavam francês com convicção, mesmo falando mal. Rapaz, entretanto, Antenor tornou-se alarmante. Entre outras coisas, Antenor pensava livremente por conta própria. Assim, a família via chegar Antenor como a própria revolução; os mestres indignavam-se porque ele aprendia ao contrario do que ensinavam; os amigos odiavam-no; os transeuntes, vendo-o passar, sorriam.
Uma só coisa descobriu a mãe de Antenor para não ser forçada a mandá-lo embora: Antenor nada do que fazia, fazia por mal. Ao contrário. Era escandalosamente, incompreensivelmente bom. Aliás, só para ela, para os olhos maternos. Porque quando Antenor resolveu arranjar trabalho para os mendigos e corria a bengala os parasitas na rua, ficou provado que Antenor era apenas doido furioso. Não só para as vítimas da sua bondade como para a esclarecida inteligência dos delegados de polícia a quem teve de explicar a sua caridade.
Com o fim de convencer Antenor de que devia seguir os tramitas legais de um jovem solar, isto é: ser bacharel e depois empregado público nacionalista, deixando à atividade da canalha estrangeira o resto, os interesses congregados da família em nome dos princípios organizaram vários meetingscomo aqueles que se fazem na inexistente democracia americana para provar que a chave abre portas e a faca serve para cortar o que é nosso para nós e o que é dos outros também para nós. Antenor, diante da evidência, negou-se.
— Ouça! bradava o tio. Bacharel é o princípio de tudo. Não estude. Pouco importa! Mas seja bacharel! Bacharel você tem tudo nas mãos. Ao lado de um político-chefe, sabendo lisonjear, é a ascensão: deputado, ministro.
— Mas não quero ser nada disso.
— Então quer ser vagabundo?
— Quero trabalhar.
— Vem dar na mesma coisa. Vagabundo é um sujeito a quem faltam três coisas: dinheiro, prestígio e posição. Desde que você não as tem, mesmo trabalhando — é vagabundo.
— Eu não acho.
— É pior. É um tipo sem bom senso. É bolchevique. Depois, trabalhar para os outros é uma ilusão. Você está inteiramente doido.
Antenor foi trabalhar, entretanto. E teve uma grande dificuldade para trabalhar. Pode-se dizer que a originalidade da sua vida era trabalhar para trabalhar. Acedendo ao pedido da respeitável senhora que era mãe de Antenor, Antenor passeou a sua má cabeça por várias casas de comércio, várias empresas industriais. Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua. Por que mandavam embora Antenor? Ele não tinha exigências, era honesto como a água, trabalhador, sincero, verdadeiro, cheio de idéias. Até alegre — qualidade raríssima no país onde o sol, a cerveja e a inveja faziam batalhões de biliosos tristes. Mas companheiros e patrões prevenidos, se a princípio declinavam hostilidades, dentro em pouco não o aturavam. Quando um companheiro não atura o outro, intriga-o. Quando um patrão não atura o empregado, despede-o. É a norma do País do Sol. Com Antenor depois de despedido, companheiros e patrões ainda por cima tomavam-lhe birra. Por que? É tão difícil saber a verdadeira razão por que um homem não suporta outro homem!
Um dos seus ex-companheiros explicou certa vez:
— É doido. Tem a mania de fazer mais que os outros. Estraga a norma do serviço e acaba não sendo tolerado. Mau companheiro. E depois com ares...
O patrão do último estabelecimento de que saíra o rapaz respondeu à mãe de Antenor:
— A perigosa mania de seu filho é por em prática idéias que julga próprias.
— Prejudicou-lhe, Sr. Praxedes?
Não. Mas podia prejudicar. Sempre altera o bom senso. Depois, mesmo que seu filho fosse águia, quem manda na minha casa sou eu.
No País do Sol o comércio ë uma maçonaria. Antenor, com fama de perigoso, insuportável, desobediente, não pôde em breve obter emprego algum. Os patrões que mais tinham lucrado com as suas idéias eram os que mais falavam. Os companheiros que mais o haviam aproveitado tinham-lhe raiva. E se Antenor sentia a triste experiência do erro econômico no trabalho sem a norma, a praxe, no convívio social compreendia o desastre da verdade. Não o toleravam. Era-lhe impossível ter amigos, por muito tempo, porque esses só o eram enquanto. não o tinham explorado.
Antenor ria. Antenor tinha saúde. Todas aquelas desditas eram para ele brincadeira. Estava convencido de estar com a razão, de vencer. Mas, a razão sua, sem interesse chocava-se à razão dos outros ou com interesses ou presa à sugestão dos alheios. Ele via os erros, as hipocrisias, as vaidades, e dizia o que via. Ele ia fazer o bem, mas mostrava o que ia fazer. Como tolerar tal miserável? Antenor tentou tudo, juvenilmente, na cidade. A digníssima sua progenitora desculpava-o ainda.
— É doido, mas bom.
Os parentes, porém, não o cumprimentavam mais. Antenor exercera o comércio, a indústria, o professorado, o proletariado. Ensinara geografia num colégio, de onde foi expulso pelo diretor; estivera numa fábrica de tecidos, forçado a retirar-se pelos operários e pelos patrões; oscilara entre revisor de jornal e condutor de bonde. Em todas as profissões vira os círculos estreitos das classes, a defesa hostil dos outros homens, o ódio com que o repeliam, porque ele pensava, sentia, dizia outra coisa diversa.
— Mas, Deus, eu sou honesto, bom, inteligente, incapaz de fazer mal...
— É da tua má cabeça, meu filho.
— Qual?
— A tua cabeça não regula.
— Quem sabe?
Antenor começava a pensar na sua má cabeça, quando o seu coração apaixonou-se. Era uma rapariga chamada Maria Antônia, filha da nova lavadeira de sua mãe. Antenor achava perfeitamente justo casar com a Maria Antônia. Todos viram nisso mais uma prova do desarranjo cerebral de Antenor. Apenas, com pasmo geral, a resposta de Maria Antônia foi condicional.
— Só caso se o senhor tomar juízo.
— Mas que chama você juízo?
— Ser como os mais.
— Então você gosta de mim?
— E por isso é que só caso depois.
Como tomar juízo? Como regular a cabeça? O amor leva aos maiores desatinos. Antenor pensava em arranjar a má cabeça, estava convencido.
Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma "relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão". Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo.
— Traz algum relógio?
— Trago a minha cabeça.
— Ah! Desarranjada?
— Dizem-no, pelo menos.
— Em todo o caso, há tempo?
— Desde que nasci.
— Talvez imprevisão na montagem das peças. Não lhe posso dizer nada sem observação de trinta dias e a desmontagem geral. As cabeças como os relógios para regular bem...
Antenor atalhou:
— E o senhor fica com a minha cabeça?
— Se a deixar.
— Pois aqui a tem. Conserte-a. O diabo é que eu não posso andar sem cabeça...
— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe uma de papelão.
— Regula?
— É de papelão! explicou o honesto negociante. Antenor recebeu o número de sua cabeça, enfiou a de papelão, e saiu para a rua.
Dois meses depois, Antenor tinha uma porção de amigos, jogava o pôquer com o Ministro da Agricultura, ganhava uma pequena fortuna vendendo feijão bichado para os exércitos aliados. A respeitável mãe de Antenor via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porem, estimavam-no, e os companheiros tinham garbo em recordar o tempo em que Antenor era maluco.
Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Maria Antônia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. Outras Marias ricas, de posição, eram de opinião da primeira Maria. Ele só tinha de escolher. No centro operário, a sua fama crescia, querido dos patrões burgueses e dos operários irmãos dos spartakistas da Alemanha. Foi eleito deputado por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — a quem atacou logo, pois para a futura eleição o presidente seria outro. A sua ascensão só podia ser comparada à dos balões. Antenor esquecia o passado, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente.
Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País do Sol estavam na dificuldade de concordar no nome do novo senador, que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Antenor era cotado. Então Antenor passeava de automóvel pelas ruas centrais, para tomar pulso à opinião, quando os seus olhos deram na tabuleta do relojoeiro e lhe veio a memória.
— Bolas! E eu que esqueci! A minha cabeça está ali há tempo... Que acharia o relojoeiro? É capaz de tê-la vendido para o interior. Não posso ficar toda vida com uma cabeça de papelão!
Saltou. Entrou na casa do negociante. Era o mesmo que o servira.
— Há tempos deixei aqui uma cabeça.
— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.
— Ah! fez Antenor.
— Tem-se dado bem com a de papelão? — Assim...
— As cabeças de papelão não são más de todo. Fabricações por séries. Vendem-se muito.
— Mas a minha cabeça?
— Vou buscá-la.
Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.
— Consertou-a?
— Não.
— Então, desarranjo grande?
O homem recuou.
— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das idéias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.
Antenor ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.
— Faça o obséquio de embrulhá-la.
— Não a coloca?
— Não.
— V.EX. faz bem. Quem possui uma cabeça assim não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.
Mas Antenor era prudente, respeitador da harmonia social.
— Diga-me cá. Mesmo parada em casa, sem corda, numa redoma, talvez prejudique.
— Qual! V.EX. terá a primeira cabeça.
Antenor ficou seco.
— Pode ser que V., profissionalmente, tenha razão. Mas, para mim, a verdade é a dos outros, que sempre a julgaram desarranjada e não regulando bem. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique V. com ela. Eu continuo com a de papelão.
E, em vez de viver no País do Sol um rapaz chamado Antenor, que não conseguia ser nada tendo a cabeça mais admirável — um dos elementos mais ilustres do País do Sol foi Antenor, que conseguiu tudo com uma cabeça de papelão.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Cavalos à la Rousseau - Antropologia e Meio Ambiente I
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Napoleão no campo de batalha de Eylau, 1807. Antoine-Jean Gros, 1808, Óleo sobre tela, 521 X 784 cm. Museu do Louvre, Paris, França |
![]() |
Batalha de Austerlitz, 02 de dezembro de 1805. François Gerard, 1810, Óleo sobre tela, 510 X |
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Os nuer do sul do Sudão
Está claro que, depois da década de 1930, e do estudo de Evans-Pritchard, essas pessoas - os nuer - não desapareceram, e bem, até aí, nenhuma novidade lógica. No entanto, se elas não desapareceram, como elas estão? Em 1996 foi publicado pela University of California Press o livro: "Nuer Dilemmas: Coping with Money, War, and the State", de Sharon Hutchinson, hoje professora da Universidade Wisconsin-Madison (currículo e outras informações aqui), que respondeu parte dessas questões. Diferentemente do trabalho de EP, que na ocasião de seu estudo analisou as incursões árabes pelo território nilota como algo de pouca importância para se entender a lógica local, Hutchinson destaca como central para compreender a dinâmica social nuer a relação estabelecida entre o norte e o sul do Sudão. Afinal, desde a pesquisa de Evans-Pritchard o domínio colonial anglo-egípcio havia se esfacelado (1898 - 1955), e o país passara por dezessete anos de guerra civil intensa (1955-1972). Assim, na 'boca do povo nuer' não estavam mais diferentes assuntos que rodeavam vacas, bois e atividades pastoris, mas sim, discussões sobre política nacional, movimento de tropas armadas na região, o petróleo abaixo dos pés etc. É neste novo cenário que a antropóloga faz seu estudo.
Estudo este que já faz mais de quinze anos e a pergunta então retorna: como estão os nuer, hoje? Quem procurar informações sobre o tema nos jornais brasileiros fica na mesma: as notícias veiculadas sobre o Sudão são poucas e superficiais. Em 2001, Beatriz Perrone Moisés escreveu um artigo sobre os conflitos recentes na região, mas o texto já completa 10 anos, e embora estejamos cientes que no início deste ano (2011) o país passou por um plebiscito que votou a independência da região sul do país, ainda ficamos carentes de informações mais atualizadas.
Neste sentido, listei alguns sites que podem ajudar aos interessados a saber novas informações. Embora a partir delas não possamos saber como estão 'os nuer', podemos ter um vislumbre da situação sudanesa em geral, o que é melhor do que nada:
- O site mais didático que encontrei é o do jornal The New York Times, em inglês. Em uma página que reúne informações e reportagens sobre o país, é explicado o movimento de independência do sul sudanes com ajuda de fotos, infográficos e vídeos. É o site que mais vale a pena visitar, para se informar rapidamente sobre a situação na região.
- Outro site, em francês, é o da TV5. A TV5 possui programas exclusivamente voltados para o continente africano, inclusive um telejornal diário, que pode ser visto online. No entanto, as informações sobre o sul do Sudão não estão tão bem sistematizadas como no site do The New York Times.
- Por último, o portal South Sudan News Agency, exclusivamente voltado para assuntos da região.
Bom proveito!
Jornal online - TV Cultura
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
apenas encaminhando uma reportagem do Estadão - ótima notícia
O Street View dos museus
- 1 de fevereiro de 2011|
- 16h38|
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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Softwares livres
Pois bem, aí está: LINK AQUI
Painéis dos presidentes - site do Estadão
Eles estão elaborando um painel com informações sobre todos os presidentes do Brasil, ou seja, desde o Marechal Deodoro da Fonseca até Dilma Roussef. Desta forma, colocam pequenos resumos sobre a contribuição de cada presidente para a economia, política e cultura do país.
Interessante, neste sentido, a disponibilização de links para outras fontes que falam dos presidentes, e as imagens que ilustram o painel!
Vale muito a pena fuçar e lembrar um pouco das aulas de história: http://www.estadao.com.br/especiais/de-deodoro-a-dilma,128452.htm#bb-md-noticia-tabs-1