quinta-feira, 28 de abril de 2011

O homem de cabeça de papelão

Este conto de João do Rio me volta vez ou outra na cabeça. Com certeza, uma das poucas coisas que me marcaram, nesta minha memória equivalente a de um peixinho dourado. Vale a pena ser lido e relido e constantemente repensado...

***


O homem de cabeça de papelão
João do Rio

No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social.

O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os habitantes afluíam todos para a capital, composta de praças, ruas, jardins e avenidas, e tomavam todos os lugares e todas as possibilidades da vida dos que, por desventura, eram da capital. De modo que estes eram mendigos e parasitas, únicos meios de vida sem concorrência, isso mesmo com muitas restrições quanto ao parasitismo. Os prédios da capital, no centro elevavam aos ares alguns andares e a fortuna dos proprietários, nos subúrbios não passavam de um andar sem que por isso não enriquecessem os proprietários também. Havia milhares de automóveis à disparada pelas artérias matando gente para matar o tempo,cabarets fatigados, jornais, tramways, partidos nacionalistas, ausência de conservadores, a Bolsa, o Governo, a Moda, e um aborrecimento integral. Enfim tudo quanto a cidade de fantasia pode almejar para ser igual a uma grande cidade com pretensões da América. E o povo que a habitava julgava-se, além de inteligente, possuidor de imenso bom senso. Bom senso! Se não fosse a capital do País do Sol, a cidade seria a capital do Bom Senso!

Precisamente por isso, Antenor, apesar de não ter importância alguma, era exceção mal vista. Esse rapaz, filho de boa família (tão boa que até tinha sentimentos), agira sempre em desacordo com a norma dos seus concidadãos.

Desde menino, a sua respeitável progenitora descobriu-lhe um defeito horrível: Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira. Alarmada, a digna senhora pensou em tomar providências. Foi-lhe impossível. Antenor era diverso no modo de comer, na maneira de vestir, no jeito de andar, na expressão com que se dirigia aos outros. Enquanto usara calções, os amigos da família consideravam-no umenfant terrible, porque no País do Sol todos falavam francês com convicção, mesmo falando mal. Rapaz, entretanto, Antenor tornou-se alarmante. Entre outras coisas, Antenor pensava livremente por conta própria. Assim, a família via chegar Antenor como a própria revolução; os mestres indignavam-se porque ele aprendia ao contrario do que ensinavam; os amigos odiavam-no; os transeuntes, vendo-o passar, sorriam.

Uma só coisa descobriu a mãe de Antenor para não ser forçada a mandá-lo embora: Antenor nada do que fazia, fazia por mal. Ao contrário. Era escandalosamente, incompreensivelmente bom. Aliás, só para ela, para os olhos maternos. Porque quando Antenor resolveu arranjar trabalho para os mendigos e corria a bengala os parasitas na rua, ficou provado que Antenor era apenas doido furioso. Não só para as vítimas da sua bondade como para a esclarecida inteligência dos delegados de polícia a quem teve de explicar a sua caridade.

Com o fim de convencer Antenor de que devia seguir os tramitas legais de um jovem solar, isto é: ser bacharel e depois empregado público nacionalista, deixando à atividade da canalha estrangeira o resto, os interesses congregados da família em nome dos princípios organizaram vários meetingscomo aqueles que se fazem na inexistente democracia americana para provar que a chave abre portas e a faca serve para cortar o que é nosso para nós e o que é dos outros também para nós. Antenor, diante da evidência, negou-se.

— Ouça! bradava o tio. Bacharel é o princípio de tudo. Não estude. Pouco importa! Mas seja bacharel! Bacharel você tem tudo nas mãos. Ao lado de um político-chefe, sabendo lisonjear, é a ascensão: deputado, ministro.

— Mas não quero ser nada disso.

— Então quer ser vagabundo?

— Quero trabalhar.

— Vem dar na mesma coisa. Vagabundo é um sujeito a quem faltam três coisas: dinheiro, prestígio e posição. Desde que você não as tem, mesmo trabalhando — é vagabundo.

— Eu não acho.

— É pior. É um tipo sem bom senso. É bolchevique. Depois, trabalhar para os outros é uma ilusão. Você está inteiramente doido.

Antenor foi trabalhar, entretanto. E teve uma grande dificuldade para trabalhar. Pode-se dizer que a originalidade da sua vida era trabalhar para trabalhar. Acedendo ao pedido da respeitável senhora que era mãe de Antenor, Antenor passeou a sua má cabeça por várias casas de comércio, várias empresas industriais. Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua. Por que mandavam embora Antenor? Ele não tinha exigências, era honesto como a água, trabalhador, sincero, verdadeiro, cheio de idéias. Até alegre — qualidade raríssima no país onde o sol, a cerveja e a inveja faziam batalhões de biliosos tristes. Mas companheiros e patrões prevenidos, se a princípio declinavam hostilidades, dentro em pouco não o aturavam. Quando um companheiro não atura o outro, intriga-o. Quando um patrão não atura o empregado, despede-o. É a norma do País do Sol. Com Antenor depois de despedido, companheiros e patrões ainda por cima tomavam-lhe birra. Por que? É tão difícil saber a verdadeira razão por que um homem não suporta outro homem!

Um dos seus ex-companheiros explicou certa vez:

— É doido. Tem a mania de fazer mais que os outros. Estraga a norma do serviço e acaba não sendo tolerado. Mau companheiro. E depois com ares...

O patrão do último estabelecimento de que saíra o rapaz respondeu à mãe de Antenor:

— A perigosa mania de seu filho é por em prática idéias que julga próprias.

— Prejudicou-lhe, Sr. Praxedes?

Não. Mas podia prejudicar. Sempre altera o bom senso. Depois, mesmo que seu filho fosse águia, quem manda na minha casa sou eu.

No País do Sol o comércio ë uma maçonaria. Antenor, com fama de perigoso, insuportável, desobediente, não pôde em breve obter emprego algum. Os patrões que mais tinham lucrado com as suas idéias eram os que mais falavam. Os companheiros que mais o haviam aproveitado tinham-lhe raiva. E se Antenor sentia a triste experiência do erro econômico no trabalho sem a norma, a praxe, no convívio social compreendia o desastre da verdade. Não o toleravam. Era-lhe impossível ter amigos, por muito tempo, porque esses só o eram enquanto. não o tinham explorado.

Antenor ria. Antenor tinha saúde. Todas aquelas desditas eram para ele brincadeira. Estava convencido de estar com a razão, de vencer. Mas, a razão sua, sem interesse chocava-se à razão dos outros ou com interesses ou presa à sugestão dos alheios. Ele via os erros, as hipocrisias, as vaidades, e dizia o que via. Ele ia fazer o bem, mas mostrava o que ia fazer. Como tolerar tal miserável? Antenor tentou tudo, juvenilmente, na cidade. A digníssima sua progenitora desculpava-o ainda.

— É doido, mas bom.

Os parentes, porém, não o cumprimentavam mais. Antenor exercera o comércio, a indústria, o professorado, o proletariado. Ensinara geografia num colégio, de onde foi expulso pelo diretor; estivera numa fábrica de tecidos, forçado a retirar-se pelos operários e pelos patrões; oscilara entre revisor de jornal e condutor de bonde. Em todas as profissões vira os círculos estreitos das classes, a defesa hostil dos outros homens, o ódio com que o repeliam, porque ele pensava, sentia, dizia outra coisa diversa.

— Mas, Deus, eu sou honesto, bom, inteligente, incapaz de fazer mal...

— É da tua má cabeça, meu filho.

— Qual?

— A tua cabeça não regula.

— Quem sabe?

Antenor começava a pensar na sua má cabeça, quando o seu coração apaixonou-se. Era uma rapariga chamada Maria Antônia, filha da nova lavadeira de sua mãe. Antenor achava perfeitamente justo casar com a Maria Antônia. Todos viram nisso mais uma prova do desarranjo cerebral de Antenor. Apenas, com pasmo geral, a resposta de Maria Antônia foi condicional.

— Só caso se o senhor tomar juízo.

— Mas que chama você juízo?

— Ser como os mais.

— Então você gosta de mim?

— E por isso é que só caso depois.

Como tomar juízo? Como regular a cabeça? O amor leva aos maiores desatinos. Antenor pensava em arranjar a má cabeça, estava convencido.

Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma "relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão". Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo.

— Traz algum relógio?

— Trago a minha cabeça.

— Ah! Desarranjada?

— Dizem-no, pelo menos.

— Em todo o caso, há tempo?

— Desde que nasci.

— Talvez imprevisão na montagem das peças. Não lhe posso dizer nada sem observação de trinta dias e a desmontagem geral. As cabeças como os relógios para regular bem...

Antenor atalhou:

— E o senhor fica com a minha cabeça?

— Se a deixar.

— Pois aqui a tem. Conserte-a. O diabo é que eu não posso andar sem cabeça...

— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe uma de papelão.

— Regula?

— É de papelão! explicou o honesto negociante. Antenor recebeu o número de sua cabeça, enfiou a de papelão, e saiu para a rua.

Dois meses depois, Antenor tinha uma porção de amigos, jogava o pôquer com o Ministro da Agricultura, ganhava uma pequena fortuna vendendo feijão bichado para os exércitos aliados. A respeitável mãe de Antenor via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porem, estimavam-no, e os companheiros tinham garbo em recordar o tempo em que Antenor era maluco.

Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Maria Antônia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. Outras Marias ricas, de posição, eram de opinião da primeira Maria. Ele só tinha de escolher. No centro operário, a sua fama crescia, querido dos patrões burgueses e dos operários irmãos dos spartakistas da Alemanha. Foi eleito deputado por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — a quem atacou logo, pois para a futura eleição o presidente seria outro. A sua ascensão só podia ser comparada à dos balões. Antenor esquecia o passado, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente.

Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País do Sol estavam na dificuldade de concordar no nome do novo senador, que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Antenor era cotado. Então Antenor passeava de automóvel pelas ruas centrais, para tomar pulso à opinião, quando os seus olhos deram na tabuleta do relojoeiro e lhe veio a memória.

— Bolas! E eu que esqueci! A minha cabeça está ali há tempo... Que acharia o relojoeiro? É capaz de tê-la vendido para o interior. Não posso ficar toda vida com uma cabeça de papelão!

Saltou. Entrou na casa do negociante. Era o mesmo que o servira.

— Há tempos deixei aqui uma cabeça.

— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.

— Ah! fez Antenor.

— Tem-se dado bem com a de papelão? — Assim...

— As cabeças de papelão não são más de todo. Fabricações por séries. Vendem-se muito.

— Mas a minha cabeça?

— Vou buscá-la.

Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.

— Consertou-a?

— Não.

— Então, desarranjo grande?

O homem recuou.

— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das idéias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.

Antenor ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.

— Faça o obséquio de embrulhá-la.

— Não a coloca?

— Não.

— V.EX. faz bem. Quem possui uma cabeça assim não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.

Mas Antenor era prudente, respeitador da harmonia social.

— Diga-me cá. Mesmo parada em casa, sem corda, numa redoma, talvez prejudique.

— Qual! V.EX. terá a primeira cabeça.

Antenor ficou seco.

— Pode ser que V., profissionalmente, tenha razão. Mas, para mim, a verdade é a dos outros, que sempre a julgaram desarranjada e não regulando bem. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique V. com ela. Eu continuo com a de papelão.

E, em vez de viver no País do Sol um rapaz chamado Antenor, que não conseguia ser nada tendo a cabeça mais admirável — um dos elementos mais ilustres do País do Sol foi Antenor, que conseguiu tudo com uma cabeça de papelão.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cavalos à la Rousseau - Antropologia e Meio Ambiente I

A partir de agora, começo a desenterrar alguns trabalhos feitos para a faculdade que acho que cabem bem neste blog. Para começar, parte de um trabalho feito para a disciplina de Antropologia e Meio Ambiente, do IFCH-Unicamp, ministrado pela profª Nádia Farage (monitoria de Rafael Barbosa), no 1º semestre de 2010.

***
PS: Cliquem na legenda das imagens para verem os quadros em um tamanho decente!

Napoleão no campo de batalha de Eylau, 1807. Antoine-Jean Gros, 1808, Óleo sobre tela, 521 X 784 cm. Museu do Louvre, Paris, França 

Batalha de Austerlitz, 02 de dezembro de 1805. François Gerard, 1810, Óleo sobre tela, 510 X 958 cm. Musée National du Château, Versailles, França

O quadro de Antoine-Jean Gros, pintado em 1808, representa Napoleão Bonaparte no campo de batalha de Eylau na Polônia, onde, em fevereiro de 1807, o exército francês derrotou o russo em um choque sangrento que deixou mais de 50.000 feridos e mortos. Como não era raro, o quadro foi feito sob encomenda pelo governo francês, a partir da escolha do artista via competição. (MUSÉE DU LOUVRE, 2010)
O que nos cabe assinalar nesse quadro é como ele está embebido em uma atmosfera que vai ao encontro do Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Como se sabe, esse ensaio foi realizado para um concurso da Academia de Dijon em 1754, e previa que os concorrentes respondessem a seguinte questão: Qual é a origem da desigualdade entre os homens, e é ela autorizada pela lei natural? O texto de Rousseau não foi vencedor da competição e não agradou os jurados, sendo, no entanto, publicado pelo autor em 1755.
Nossa hipótese é de que a obra de Gros dialoga inteiramente com o escrito de Rousseau, por trazer em seu bojo uma temática que se foca na piedade. O quadro foi feito com cores escuras, em uma atmosfera de luto, onde como protagonista figura Napoleão Bonaparte altivo e misericordioso visitando o campo de batalha. O semblante de Napoleão é sério, e alguns comentaristas dizem que o imperador, estando em Eylau, teria exclamado: “Se todos os reis da terra pudessem ter essa visão, eles seriam menos propensos às guerras e conquistas” (NAPOLEON.ORG, 2010). O quadro é construído de forma a mostrar o horrível resultado das batalhas humanas, e a altivez francesa de portar-se piedosa diante dos acontecimentos. Não existe uma comemoração frente aos restos humanos ou cossacos agonizantes que resultam do combate, mas uma resignação pesarosa. Alguns soldados franceses visam ajudar combatentes russos feridos, que estranham o acontecido, como é possível ver principalmente pela dupla no campo direito do quadro. O cavalo em que monta Napoleão, por sua vez, traz em seu semblante um choque de repugnância frente ao cenário já descrito por Rousseau (1973, p. 259), e outras vezes figurado pelo artista – como, por exemplo, no quadro A Batalha de Abukir, de 1806.
O quadro exprime pela simbiose de sentimento entre os animais e humanos presentes a piedade como elo entre natureza e cultura:

Certo, pois a piedade representa um sentimento natural que, moderando em cada individuo a ação do amor de si mesmo, concorre para a conservação mútua de a espécie. Ela nos faz, sem reflexão, socorrer aqueles que vemos sofrer; ela, no estado de natureza, ocupa o lugar das leis, dos costumes e da virtude, com a vantagem de ninguém sentir-se tentado a desobedecer à sua doce voz; ela impedirá qualquer selvagem robusto de tirar uma criança fraca ou a um velho enfermo a subsistência adquirida com dificuldade, desde que ele mesmo possa encontrar a sua em outra parte; ela, em lugar dessa máxima sublime da justiça raciocinada – Faze a outrem o que desejas que façam a ti -, inspira a todos os homens esta outra máxima de bondade natural, bem menos perfeita, mas talvez mais útil do que a precedente – Alcança teu bem com o menor mal possível para outrem. Numa palavra, antes nesse sentimento natural do que nos argumentos sutis deve procurar-se a causa da repugnância que todo homem experimentaria por agir mal, mesmo independentemente das máximas da educação. (ROUSSEAU, 1973, p. 260).

O quadro, desta maneira, consegue condensar o argumento de Rousseau das ambigüidades que rondam o sentimento de piedade. Natural de homens e animais, é a piedade que serve de estopim para a aproximação humana em sociedade, e, portanto, como possibilitadora da cultura. No entanto, sendo o estado de sociedade como o propicio à violência e à degeneração humana, esta condição leva às tristes guerras que, mais uma vez, despertam o sentimento de piedade para com o vencido.
É claro que essa construção do artista também vinha responder a grande impopularidade que o combate de Eylau causara na França, mas, no entanto, ainda sofreu severas críticas por trazer uma visualidade da guerra como cenário negativo.
A singularidade do quadro de Gros pode ser observada quando comparada a outros quadros de batalha, como o de Gerard François, sobre a Batalha de Austerlitz.
Neste quadro, os combatentes não demonstram nenhum incômodo frente aos cadáveres resultantes da guerra, nem os cavalos mostram-se cuidadosos para que em seu galope desviem-se de restos mortais. Aliás, é possível observar o contrário, dois deles estão com suas patas ao alto, na iminência de pisar em soldados vencidos. A atmosfera geral é de alívio e celebração ainda entusiasta frente à batalha recentemente vencida, anunciada pela chegada de raios de sol através de nuvens escuras e a entrega do príncipe Nicolau Repnin à Napoleão.


Fontes específicas:


MUSÉE DU LOUVRE (Comp.). Napoleon on the Battlefield of Eylau. Disponível em: <http://www.louvre.fr/llv/oeuvres/detail_notice.jsp?CONTENT%3C%3Ecnt_id=10134198673225732&CURRENT_LLV_NOTICE%3C%3Ecnt_id=10134198673225732&FOLDER%3C%3Efolder_id=9852723696500815&baseIndex=45&bmLocale=en>. Acesso em: 25 maio 2010.

NAPOLEON.ORG (Comp.). KEY PAINTING - FIRST EMPIRE. Disponível em: <http://www.napoleon.org/en/essential_napoleon/key_painting/premier_empire.asp>. Acesso em: 25 maio 2010.

WIKIMEDIA COMMONS. The Battle of Abukir. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gros_-_The_Battle_of_Abukir.png>. Acesso em: 15 jun. 2010.

WEB GALLERY OF ART (Comp.). Napoleon Bonaparte on the Battlefield of Eylau, 1807. Disponível em: <http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/g/gros/7eylau.html>. Acesso em: 25 maio 2010.

ROUSSEAU, Jean Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. In: ROUSSEAU, Jean Jacques. Jean Jacques Rousseau: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 207-326.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os nuer do sul do Sudão

Para quem se aventura nos estudos antropológicos, é caminho incontornável a leitura do clássico "Os Nuer: Uma descrição do modo de subsistência e das instituições políticas de um povo nilota" de Evans-Pritchard, escrito a partir de pesquisas de campo do autor no período que vai de 1930 a 1936. As razões de tamanha importância são várias, e entre elas podemos assinalar o esforço em compreender - e construir - uma 'estrutura social' específica, de forma a trazer para o leitor insights do modo de vida e de visão de mundo dos nuer. E tudo isso, feito de forma clara e verossímil, o que não é de pouca importância.

Está claro que, depois da década de 1930, e do estudo de Evans-Pritchard, essas pessoas - os nuer - não desapareceram, e bem, até aí, nenhuma novidade lógica. No entanto, se elas não desapareceram, como elas estão? Em 1996 foi publicado pela University of California Press o livro: "Nuer Dilemmas: Coping with Money, War, and the State", de Sharon Hutchinson, hoje professora da Universidade Wisconsin-Madison (currículo e outras informações aqui), que respondeu parte dessas questões. Diferentemente do trabalho de EP, que na ocasião de seu estudo analisou as incursões árabes pelo território nilota como algo de pouca importância para se entender a lógica local, Hutchinson destaca como central para compreender a dinâmica social nuer  a relação estabelecida entre o norte e o sul do Sudão. Afinal, desde a pesquisa de Evans-Pritchard o domínio colonial anglo-egípcio havia se esfacelado (1898 - 1955), e o país passara por dezessete anos de guerra civil intensa (1955-1972). Assim, na 'boca do povo nuer' não estavam mais diferentes assuntos que rodeavam vacas, bois e atividades pastoris, mas sim, discussões sobre política nacional, movimento de tropas armadas na região, o petróleo abaixo dos pés etc. É neste novo cenário que a antropóloga faz seu estudo.

Estudo este que já faz mais de quinze anos e a pergunta então retorna: como estão os nuer, hoje? Quem procurar informações sobre o tema nos jornais brasileiros fica na mesma: as notícias veiculadas sobre o Sudão são poucas e superficiais. Em 2001, Beatriz Perrone Moisés escreveu um artigo sobre os conflitos recentes na região, mas  o texto já completa 10 anos, e embora estejamos cientes que no início deste ano (2011) o país passou por um plebiscito que votou a independência da região sul do país, ainda ficamos  carentes de informações mais atualizadas.

Neste sentido, listei alguns sites que podem ajudar aos interessados  a saber novas informações. Embora a partir delas não possamos saber como estão 'os nuer', podemos ter um vislumbre da situação sudanesa em geral, o que é melhor do que nada:

- O site mais didático que encontrei é o do jornal The New York Times, em inglês. Em uma página que reúne informações e reportagens sobre o país, é explicado o movimento de independência do sul sudanes com ajuda de fotos, infográficos e vídeos. É o site que mais vale a pena visitar, para se informar rapidamente sobre a situação na região.

- Outro site, em francês, é o da TV5. A TV5 possui programas exclusivamente voltados para o continente africano, inclusive um telejornal diário, que pode ser visto online. No entanto, as informações sobre o sul do Sudão não estão tão bem sistematizadas como no site do The New York Times.

- Por último, o portal South Sudan News Agency, exclusivamente voltado para assuntos da região.

Bom proveito!

Jornal online - TV Cultura

Fica a dica: o Jornal da Cultura tem o diferencial de trazer, durante toda a semana, dois ou mais convidados que comentam as notícias veiculadas pelo programa. Isso faz com que as reportagens sejam relativizadas, contextualizadas, criticadas, ampliadas, e até mesmo contestadas para o telespectador, que então vê-se com um leque mais amplo de subsídios para formar sua própria opinião sobre o que está sendo transmitido. 
O Jornal também teve a feliz idéia de colocar todo o seu conteúdo, na íntegra, na internet. Então, para os interessados que não podem ver o programa ao vivo, ele está totalmente acessível na rede: http://www.tvcultura.com.br/jornal-da-cultura/