quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

camponeses chineses

será que existem pessoas pesquisando esse assunto?

moda de dilma

Vi essa reportagem da Vivian Whiteman na Folha de hoje (28 de dezembro) e pensei se não valeria uma análise mais aprofundada, à la Gilda de Mello e Souza, e talvez uma comparaçãozinha com outras mulheres em outros cargos de poder. Talvez um trio bacana a ser analisado fosse Dilma, Cristina Kirchner e Angela Merkel. 
Fica a ideia de artigo (vamos ver se eu mesma consigo desenvolver algo nesse sentido)

28/12/2011 - 08h29

Sem apelar para uniforme, Dilma tem visual consagrado por estilistas


VIVIAN WHITEMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Começou em pé de guerra e terminou em consagração o "ano fashion" da presidente Dilma Rousseff.

No dia da posse, muitos esperavam dela um modelo alinhado em vermelho-PT. Outros insistiam que ela vestisse algo assinado por uma das grandes grifes brasileiras. Contrariando a todos, apareceu num conjunto branco assinado por sua amiga Luisa Stadtlander, modista gaúcha até então desconhecida.

Veja galeria de fotos das roupas usadas por Dilma

A presidente, com muita habilidade, soube virar esse jogo ao longo de 2011. Nunca botou a roupa em primeiro plano, não apelou para nenhum tipo de "uniforme" repetido em série e não precisou vestir marcas de luxo nacionais ou estrangeiras para demonstrar seu apoio ao mercado de moda e ganhar a confiança do setor.

Reuters/Folhapress/Efe
Modelos usados por Dilma Rousseff durante o ano; clique para conferir os estilos da presidente
Modelos usados por Dilma Rousseff durante o ano; clique para conferir os estilos da presidente

Manteve Luisa como sua estilista oficial e seguiu em frente. Quando teve chance de falar sobre suas roupas, deixou sempre claro que é uma mulher sem muita paciência para emperiquitações no visual e que preferia ser assessorada por uma senhora que compreendia esse traço de sua personalidade, deixando-a segura.

Aos poucos, os conjuntos foram ficando menos sisudos. Mais relaxada, a dupla de amigas investiu em pequenas mudanças, sem trair o jeitinho da presidente.

Mas o ponto áureo do ano foi o discurso de Dilma na ONU. Luisa não é nenhum Alexandre Herchcovitch no quesito criatividade, evidente, mas tem seus momentos de brilho simbólico.

Vestiu Dilma de renda suíça azul para o compromisso nas Nações Unidas. Não o branco óbvio da falsa e hipócrita promessa da paz universal, mas um azul de céu que promete abrir em sol.

E a renda, tecido símbolo da transparência elegante. Foi a transparência (não a da renda, mas a da política) um dos aspectos mais comentados pelos brasileiros que deram a Dilma índices recordes de aprovação nesse primeiro ano de governo.

As revistas mais importantes do mundo e, durante a última temporada de desfiles em Nova York, o estilista brasileiro Francisco Costa, diretor de criação da Calvin Klein e um dos papas da elegância mundial, elogiaram o porte e os looks da presidente. Muitos outros fizeram coro.

Assim, com muita discrição e habilidade na costura, Dilma driblou um certo esnobismo dos fashionistas, as maledicências dos machistas e a patrulha dos que acham que uma mulher em cargo de poder deve se vestir como um general truculento.

Durona sem perder a ternura, Dilma terminou 2011 levando o Brasil ao título de sexta maior economia do mundo sem perder o rebolado no modelo. Como diria a irônica Luisa (não a Stadtlander, mas a famosa Marilac): "e houve boatos de que ela estaria na pior"




domingo, 25 de dezembro de 2011

Internet, esse mundo mágico

Na Folha de hoje (dia 25 de dezembro, 2011), uma ótima dica que não deveria ter saído em um dia que, imagino, pouca gente lê o jornal. Uma lista de 50 ferramentas gratuitas na internet. 
Hum? 
Por ferramentas, entenda sites de consultoria, de empregos (e outras coisa chatas), mas também cursos gratuitos na rede. Como por exemplo, os da Deutsch Welle, da universidade de Yale e por aí vai. Grifei os (poucos) que conheço e recomendo! =D
Tirei da lista aqueles que achei menos interessantes. 

50 ferramentas gratuitas

Cursos e programas para alavancar a carreira em 2012

(...)

CURSOS

Finanças e gestão

BM&FBovespa
Oferece cursos sobre o mercado de finanças
www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/cursos/cursos.aspx?idioma=pt-br

Esag

Disponibiliza treinamentos on-line sobre temas como gestão, design e negócios
esag.edu.br/atualizacao/online.html

Fundação Bradesco
Oferece cursos on-line em áreas como administração financeira
ev.org.br

FGV Online
Tem cursos virtuais em finanças, empreendedorismo e direito
www5.fgv.br/fgvonline/CursosGratuitos.aspx

Serpro
Possui treinamentos de comunicação e administração do tempo
serpro.gov.br

Tecnologia

Centro de computação da Unicamp
Permite a participação de profissionais em aulas virtuais sobre informática
ggte.unicamp.br/minicurso

Ciee
Disponibiliza treinamento sobre a linguagem HTML
www.ciee.org.br/portal/estudantes/parceiros/index.asp

Direito
Instituto Euvaldo Lodi Disponibiliza diversos cursos on-line como marketing pessoal e
legislação trabalhista
www.iel.org.br

Instituto Legislativo Brasileiro
Possui treinamentos variados, entre eles, administração pública e processo legislativo
www.senado.gov.br/sf/senado/ilb/asp/ED_Cursos.asp

Idiomas

BBC
Publica notícias em inglês e explica a definição das palavras mais difíceis da língua
www.bbc.co.uk/portuguese/topicos/aprenda_ingles

Bom Espanhol
Oferece aulas virtuais com textos, listas de verbos e áudio para aprendizado do espanhol
bomespanhol.com.br

DeutscheWelle
Tem curso de alemão por meio áudios, videos e podcasts
dw-world.de/dw/0,,2594,00.htm

Francoclic
Possui curso de francês com recursos como vídeos, fotos e textos
francoclic.mec.gov.br

Educação

Fundação Cecierj
Permite a participação em cursos de educação superior a distância
cederj.edu.br/fundacao

Unicamp
Disponibiliza o conteúdo dos cursos ministrados nas disciplinas de graduação
ocw.unicamp.br

Estrangeiros

Universidade Standford (em inglês)
Curso variados nas áreas de humanas, exatas e tecnologia
itunes.stanford.edu/rss.html

Universidade da California (em inglês)
Cursos em vídeo em humanas, exatas, tecnologia da informação e engenharia
webcast.berkeley.edu

Instituto Ludwing von Mises (em inglês)
Disponibiliza cursos em áudio pela internet sobre economia e finanças
mises.org/media/category/168/168

MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts; em inglês)
Cursos virtuais nas áreas de humanas, exatas e biológicas
ocw.mit.edu/index.htm

Open Yale Courses (Cursos Abertos de Yale; em inglês)
Oferece aulas de economia, biomedicina, química, entre outras, pela internet
oyc.yale.edu

(...)

SOFTWARES

Evernote
Consiste em serviço de lembrete automático
evernote.com

Finance Desktop
Funciona como gerenciador financeiro pessoal
financedesktop.com.br

(...)

domingo, 11 de dezembro de 2011

dan piraro e empatia animal



reativando o blog

Aos pouquinhos, com boas notícias

Reportagem da Folha 
11/12/2011 - 10h53

Museu lança acervo on-line com registros de imigração


CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO


Um documento de caligrafia floreada, de 1893, atesta que cinco membros da família italiana Zoli chegaram ao país pelo porto de Santos.

Ele é parte do acervo, digitalizado ao longo dos últimos sete meses, do Museu da Imigração e do Arquivo Público do Estado. O banco de dados, lançado nesta semana, está disponível para download gratuito no site www.museudaimigracao.org.br.

São 87 mil registros de cartas, fotos, mapas, jornais e documentos de quem chegou a São Paulo subsidiado pelo governo da época.

Eles passaram pela hospedaria, que recebeu 2,5 milhões de imigrantes, entre 1887 e 1978, principalmente italianos e portugueses.

Sebastião Zoli Júnior, 48, pesquisa a família desde 1989, mas só agora teve em mãos documentos históricos. Ali está seu bisavô Girolamo (Gerônimo) Zoli, então com 23 anos, vindo de vapor da província de Ferrara, norte da Itália, indo para Capivari (SP), trabalhar com café.

Fábio Braga/Folhapress
Sebastião Zoli Junior, 48, descobriu registros sobre a chegada de seu tataravo ao Brasil, com mulher e três filhos
Sebastião Zoli Junior, 48, descobriu registros sobre a chegada de seu tataravo ao Brasil, com mulher e três filhos

"Para a gente que é descendente é até emocionante", afirmou ele, que é conselheiro do Comites (Comitê dos Italianos no Exterior).

"No histórico do vapor pode ter cartas, anotações, posso descobrir se alguém morreu no caminho", aposta Zoli, que "perdeu" um L do sobrenome quando o funcionário da hospedaria anotou o nome de seu tataravô Giulio no registro de matrículas.

Para o historiador e genealogista Virginio Mantesso Neto, o site é importante para pesquisadores e familiares por trazer documentos que eram restritos, mesmo na biblioteca do Arquivo Público.

Um problema que ele aponta é no sistema de buscas do site, que não permite procurar nome e sobrenome de uma vez. Quem for pesquisar nomes comuns como Giovanni terá trabalho: há 26.364 registros de matrícula.

Carlos Bacellar, coordenador do Arquivo Público, órgão contratado para criar o site e digitalizar os documentos, diz que o sistema de buscas pode ser aperfeiçoado.

Mas diz que o site vai facilitar o trabalho das famílias que buscam seus antepassados para pedir certidões e tentar dupla cidadania.

O projeto foi financiado pela Secretaria de Estado da Cultura, por R$ 200 mil, que também banca a reforma de R$ 7,5 milhões para transformar o prédio que abrigou a hospedaria e, mais tarde, o novo Museu da Imigração.

Para o secretário de Cultura, Andrea Matarazzo, o instrumento preserva documentos antigos e democratiza o acesso da população a eles.

"A sociedade pode reconhecer suas origens e sentir a importância que a imigração teve no desenvolvimento de São Paulo", diz.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Bribespot - localizador de subornos

A proeza apareceu em abril deste ano, na Estônia. Foi o resultado de um dos grupos que participavam do evento Garage48, que cria situações de encontro entre pessoas com os mais diversos talentos (desenvolvimento de softwares, marketing, administração, design, etc.) para a concretização de uma idéia em até 48 horas.





O grupo, com as mais diversas origens (Lituânia, Estônia, Irã e Finlândia), decidiu então criar um aplicativo onde pessoas pudessem postar (e localizar) situações de suborno pelas quais já tinham passado. Dessa forma, sabemos que um indivíduo (todo o processo é anônimo) que voltava do Malawi para a Zâmbia teve que pagar um suborno de $300,00 para entrar no país; na Romênia, outro, pode pagar $1000,00 para ser aprovado em um exame universitário; e na Índia, um outro, $100,00 para se livrar de uma multa por falar ao celular enquanto dirigia.

A este aplicativo deram o nome de Bribespot (Bribe, de suborno; spot, de ponto/lugar). Com ele, os criadores pensaram não em descobrir o país mais subornável do mundo, mas sim, criar situações de denúncia anônima que criem um movimento internacional contra corruptíveis - sejam esses intituições ou pessoas.

O envio de dados pode ser feito no próprio website do aplicativo, assim como nos apps para Android e iPhone (em breve). O usuário pode detalhar o lugar exato do suborno, a situação e a quantidade paga, assim como conferir a existência e os tipos de suborno nas redondezas em que se encontra.

Neste exato momento, 18 de maio às 20:40, não havia ainda nenhuma ocorrência de suborno para o Brasil e toda a América Latina. Com a divulgação do Bribespot, os números tendem a mudar....

domingo, 15 de maio de 2011

Mais um de ET

Como lidar com a alteridade? Talvez porque respondam a essa pergunta que filmes com temática extraterrestre causem tanto fascínio. Afinal, eles nos trazem diversas possibilidades, que não raro reverberam na condição de trato com "o outro" menos extremado - como imigrantes, por exemplo. O filme Distrito 9, de 2009, escancarou a analogia , e pudemos ver nas telas brasileiras, ainda que por pouco tempo, a metáfora explicitada. 

O mesmo não aconteceu com o filme Monsters, de 2010, com direção de Gareth Edwards, que não estreou nas salas de cinema por aqui. Em suma, a história se passa nas seguintes condições:  Há menos de uma década, a NASA descobriu a possibilidade de vida extra-terrestre no sistema solar. Foram coletadas amostras para comprovação, mas, quando a sonda espacial voltava à Terra, houve um acidente que fez com que ela se rompesse no território mexicano fronteiriço ao EUA. Depois de algum tempo, formas estranhas de vida começaram a surgir. Uma área correspondente a metade do México foi posta como Zona Infectada, e proibida a circulação de pessoas. 

Desta forma, as proximidades e a própria ZI passam a viver em constante tensão. As forças militares americanas e mexicanas tentam conter as criaturas dentro do limite estipulado, através de bombas e armas químicas. Porém, muitas vezes, as empreitadas acabem vitimando também seres humanos que vivem em áreas adjacentes.   

É a necessidade de ir do México para os EUA que mobilizam os dois personagens principais a atravessarem a ZI, e correr o risco de contato com os extraterrestres. Criaturas mostradas no filme com refletida parcimônia, pois o interesse não é o de imaginar como as elas lidam com os homens, mas como os homens lidam com as criaturas e com eles mesmos. 

A produção ganhou certa repercussão na Inglaterra e nos EUA porque, além de ser um filme de baixo orçamento (custou por volta de $800,000, segundo o IMBD), também foi filmado com base na improvisação. Apenas os protagonistas são atores profissionais, e mesmo assim, as cenas foram filmadas dando-lhes apenas linhas gerais de ação, sem falas fixas. Aparentemente, também haverá uma continuação (que tende já a ser milionária), mas com outra direção.

Ótimo filme, entusiasticamente recomendado. Abaixo, uma mini-entrevista com o diretor Gareth Edwards, feito para o festival de cinema de Toronto.


domingo, 8 de maio de 2011

A arte na mecânica do movimento

Quem conhece o circuito de exposições de São Paulo já sabe: a Galeria de Arte do Sesi ( Av. Paulista, 1313- Metrô Trianon-Masp) tem a ótima qualidade de apenas promover mostras de objetivo bem definido, e que por isso conseguem desenvolver sua proposta de forma aprofundada. Dessa vez não foi diferente. O amplo espaço expositivo do prédio dá espaço a "A arte na mecânica do movimento", um projeto do historiador Lucas Bittencourt em parceria com a municipalidade da cidade de Sainte-Croix (Suíça). 

Lucas Bittencourt é na verdade, Lucas Bittencourt Gouveia, um historiador misterioso, que não atualiza seu Lattes desde 2008, e que defendeu na USP, em abril de 2010, a tese de mestrado em História Social ": "Par penitence les cumandet a ferir: a legitimação do combate contra os pagãos na Chanson de Roland e na Chanson de Guillaume". Uma explicação de como ele se enveredou para a organização da exposição não é clara (pelos caminhos de pesquisa online, pelo menos), mas, em uma reportagem  do site Guia da Semana, nos é informado que a idéia veio com uma visita do historiador à cidade de Sainte-Croix.

Sainte-Croix é uma pequena cidade suíça - localizada na fronteira com a França e com pouco mais de 4.500 habitantes - que abriga o CIMA: Centre International de la Mécanique d'Art. No site do museu, algumas informações: A instituição foi aberta em 1985, e expõe ao público caixas de música, autômatos, pássaros-cantores, entre outros objetos. A relevância de tal acervo é que ele é uma amostra de todo um conjunto fabricado nessa cidade desde o século XIX, que prima pelo conhecimento técnico e mecânico.  

Uma rápida visita ao site deixa evidente que a exposição em São Paulo é nada mais nada menos do que um conjunto resumido do que é apresentado em Sainte-Croix. Ainda bem! Por isso, o visitante tem contato com obras que vão desde a metade do século XIX até 2010, construídas por mestres da técnica-mecânica que nos recordam que a arte é mais do que uma idealização, é o trabalho com o material e a concretização física de idéias...

É uma emoção indescritível, por exemplo, ver uma caixa de música de 1850, totalmente mecânica, tocar em alto e bom som para o que veio. Um autômato de cabelos desgrenhados assustadoramente dançar para os seus olhos, e um piano funcionar apenas com seus pedáis...Além, é claro, dos passarinhos de corda que não só cantam alegremente (via um mecanismo de foles), mas também abrem o bico, balançando as asas e  o rabo...


Um vídeo do youtube (que não está relacionado à exposição), que mostra o funcionamento das caixas de música de cilindro. 



Outro vídeo, de um passarinho-cantor, mas produzido há pouco tempo atrás pela empresa Reuge, também com obras presentes na exposição.


Porque esse fascínio? Ainda que admitindo que certas razões se expliquem individualmente, é possível sugerir algumas explicações. Sem dúvida, o caráter técnico salta aos olhos, assim como a possibilidade de tanta complexidade sendo produzida artesanalmente, sem a utilização de recursos como a energia elétrica. As caixas de música expõe ao visitante parte de sua mecânica, e sua precisão e permanência (porque elas ainda tocam muito bem, obrigada) impressionam. Difícil não se perguntar: "Como foi possível alguém conseguir construir isso?". Um sentimento parecido (senão igual) ao descrito pelo antropólogo Alfred Gell em relação às proas melanésias, no texto: The Technology of Enchantment and the Enchantment of Technology

Mais do que isso, as peças fascinam porque ficam no meio termo entre o compreensível e a 'caixa-preta', para fazer uso do termo do filósofo Vilém Flusser. Ou seja, embora tenham um mecanismo de difícil apreensão, esse ainda é, na maior parte das vezes, visível e decifrável. Por essa mesma razão, estimulam a pensar sobre eles, e no jogo de quebra-cabeça que implicam.

Em suma: Exposição imperdível e única. Não é do tipo que depois se acha reprodução na internet, ou outra montagem parecida no centro-cultural mais próximo. Um estímulo : Em junho todas as peças voltam pra Suíça e sabe-se lá quando (ou se) voltarão ao Brasil. Uma dica: Grude nos monitores. Eles são hiper simpáticos, além de serem as únicas pessoas que podem fazer as máquinas funcionarem, literalmente.Um pecado: Nesta visita, passei correndo na parte contemporânea da exposição, pois estava atrasada para um compromisso. Por isso os comentários-zero dessa seção. Mas pretendo voltar, e completar o relato... 

Informações sobre a exposição (do site da FIESP):

Informações
LocalGaleria de Arte do SESI – Centro Cultural Fiesp-Ruth Cardoso - Av. Paulista, 1313- Metrô Trianon-Masp
Temporada19/04 a 26/06/2011
Segunda a domingo
HorárioSegunda-feira, das 11h às 20h
Terça a sábado, das 10h às 20h
Domingo, das 10h às 19h
IngressosEntrada franca
TelefonesSegunda a sexta-feira, das 10h às 13h e das 14h às 17h
pelo telefone (11) 3146-7439
Indicação Etária 
Evento livre para todos os públicos

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O homem de cabeça de papelão

Este conto de João do Rio me volta vez ou outra na cabeça. Com certeza, uma das poucas coisas que me marcaram, nesta minha memória equivalente a de um peixinho dourado. Vale a pena ser lido e relido e constantemente repensado...

***


O homem de cabeça de papelão
João do Rio

No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social.

O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os habitantes afluíam todos para a capital, composta de praças, ruas, jardins e avenidas, e tomavam todos os lugares e todas as possibilidades da vida dos que, por desventura, eram da capital. De modo que estes eram mendigos e parasitas, únicos meios de vida sem concorrência, isso mesmo com muitas restrições quanto ao parasitismo. Os prédios da capital, no centro elevavam aos ares alguns andares e a fortuna dos proprietários, nos subúrbios não passavam de um andar sem que por isso não enriquecessem os proprietários também. Havia milhares de automóveis à disparada pelas artérias matando gente para matar o tempo,cabarets fatigados, jornais, tramways, partidos nacionalistas, ausência de conservadores, a Bolsa, o Governo, a Moda, e um aborrecimento integral. Enfim tudo quanto a cidade de fantasia pode almejar para ser igual a uma grande cidade com pretensões da América. E o povo que a habitava julgava-se, além de inteligente, possuidor de imenso bom senso. Bom senso! Se não fosse a capital do País do Sol, a cidade seria a capital do Bom Senso!

Precisamente por isso, Antenor, apesar de não ter importância alguma, era exceção mal vista. Esse rapaz, filho de boa família (tão boa que até tinha sentimentos), agira sempre em desacordo com a norma dos seus concidadãos.

Desde menino, a sua respeitável progenitora descobriu-lhe um defeito horrível: Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira. Alarmada, a digna senhora pensou em tomar providências. Foi-lhe impossível. Antenor era diverso no modo de comer, na maneira de vestir, no jeito de andar, na expressão com que se dirigia aos outros. Enquanto usara calções, os amigos da família consideravam-no umenfant terrible, porque no País do Sol todos falavam francês com convicção, mesmo falando mal. Rapaz, entretanto, Antenor tornou-se alarmante. Entre outras coisas, Antenor pensava livremente por conta própria. Assim, a família via chegar Antenor como a própria revolução; os mestres indignavam-se porque ele aprendia ao contrario do que ensinavam; os amigos odiavam-no; os transeuntes, vendo-o passar, sorriam.

Uma só coisa descobriu a mãe de Antenor para não ser forçada a mandá-lo embora: Antenor nada do que fazia, fazia por mal. Ao contrário. Era escandalosamente, incompreensivelmente bom. Aliás, só para ela, para os olhos maternos. Porque quando Antenor resolveu arranjar trabalho para os mendigos e corria a bengala os parasitas na rua, ficou provado que Antenor era apenas doido furioso. Não só para as vítimas da sua bondade como para a esclarecida inteligência dos delegados de polícia a quem teve de explicar a sua caridade.

Com o fim de convencer Antenor de que devia seguir os tramitas legais de um jovem solar, isto é: ser bacharel e depois empregado público nacionalista, deixando à atividade da canalha estrangeira o resto, os interesses congregados da família em nome dos princípios organizaram vários meetingscomo aqueles que se fazem na inexistente democracia americana para provar que a chave abre portas e a faca serve para cortar o que é nosso para nós e o que é dos outros também para nós. Antenor, diante da evidência, negou-se.

— Ouça! bradava o tio. Bacharel é o princípio de tudo. Não estude. Pouco importa! Mas seja bacharel! Bacharel você tem tudo nas mãos. Ao lado de um político-chefe, sabendo lisonjear, é a ascensão: deputado, ministro.

— Mas não quero ser nada disso.

— Então quer ser vagabundo?

— Quero trabalhar.

— Vem dar na mesma coisa. Vagabundo é um sujeito a quem faltam três coisas: dinheiro, prestígio e posição. Desde que você não as tem, mesmo trabalhando — é vagabundo.

— Eu não acho.

— É pior. É um tipo sem bom senso. É bolchevique. Depois, trabalhar para os outros é uma ilusão. Você está inteiramente doido.

Antenor foi trabalhar, entretanto. E teve uma grande dificuldade para trabalhar. Pode-se dizer que a originalidade da sua vida era trabalhar para trabalhar. Acedendo ao pedido da respeitável senhora que era mãe de Antenor, Antenor passeou a sua má cabeça por várias casas de comércio, várias empresas industriais. Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua. Por que mandavam embora Antenor? Ele não tinha exigências, era honesto como a água, trabalhador, sincero, verdadeiro, cheio de idéias. Até alegre — qualidade raríssima no país onde o sol, a cerveja e a inveja faziam batalhões de biliosos tristes. Mas companheiros e patrões prevenidos, se a princípio declinavam hostilidades, dentro em pouco não o aturavam. Quando um companheiro não atura o outro, intriga-o. Quando um patrão não atura o empregado, despede-o. É a norma do País do Sol. Com Antenor depois de despedido, companheiros e patrões ainda por cima tomavam-lhe birra. Por que? É tão difícil saber a verdadeira razão por que um homem não suporta outro homem!

Um dos seus ex-companheiros explicou certa vez:

— É doido. Tem a mania de fazer mais que os outros. Estraga a norma do serviço e acaba não sendo tolerado. Mau companheiro. E depois com ares...

O patrão do último estabelecimento de que saíra o rapaz respondeu à mãe de Antenor:

— A perigosa mania de seu filho é por em prática idéias que julga próprias.

— Prejudicou-lhe, Sr. Praxedes?

Não. Mas podia prejudicar. Sempre altera o bom senso. Depois, mesmo que seu filho fosse águia, quem manda na minha casa sou eu.

No País do Sol o comércio ë uma maçonaria. Antenor, com fama de perigoso, insuportável, desobediente, não pôde em breve obter emprego algum. Os patrões que mais tinham lucrado com as suas idéias eram os que mais falavam. Os companheiros que mais o haviam aproveitado tinham-lhe raiva. E se Antenor sentia a triste experiência do erro econômico no trabalho sem a norma, a praxe, no convívio social compreendia o desastre da verdade. Não o toleravam. Era-lhe impossível ter amigos, por muito tempo, porque esses só o eram enquanto. não o tinham explorado.

Antenor ria. Antenor tinha saúde. Todas aquelas desditas eram para ele brincadeira. Estava convencido de estar com a razão, de vencer. Mas, a razão sua, sem interesse chocava-se à razão dos outros ou com interesses ou presa à sugestão dos alheios. Ele via os erros, as hipocrisias, as vaidades, e dizia o que via. Ele ia fazer o bem, mas mostrava o que ia fazer. Como tolerar tal miserável? Antenor tentou tudo, juvenilmente, na cidade. A digníssima sua progenitora desculpava-o ainda.

— É doido, mas bom.

Os parentes, porém, não o cumprimentavam mais. Antenor exercera o comércio, a indústria, o professorado, o proletariado. Ensinara geografia num colégio, de onde foi expulso pelo diretor; estivera numa fábrica de tecidos, forçado a retirar-se pelos operários e pelos patrões; oscilara entre revisor de jornal e condutor de bonde. Em todas as profissões vira os círculos estreitos das classes, a defesa hostil dos outros homens, o ódio com que o repeliam, porque ele pensava, sentia, dizia outra coisa diversa.

— Mas, Deus, eu sou honesto, bom, inteligente, incapaz de fazer mal...

— É da tua má cabeça, meu filho.

— Qual?

— A tua cabeça não regula.

— Quem sabe?

Antenor começava a pensar na sua má cabeça, quando o seu coração apaixonou-se. Era uma rapariga chamada Maria Antônia, filha da nova lavadeira de sua mãe. Antenor achava perfeitamente justo casar com a Maria Antônia. Todos viram nisso mais uma prova do desarranjo cerebral de Antenor. Apenas, com pasmo geral, a resposta de Maria Antônia foi condicional.

— Só caso se o senhor tomar juízo.

— Mas que chama você juízo?

— Ser como os mais.

— Então você gosta de mim?

— E por isso é que só caso depois.

Como tomar juízo? Como regular a cabeça? O amor leva aos maiores desatinos. Antenor pensava em arranjar a má cabeça, estava convencido.

Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma "relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão". Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo.

— Traz algum relógio?

— Trago a minha cabeça.

— Ah! Desarranjada?

— Dizem-no, pelo menos.

— Em todo o caso, há tempo?

— Desde que nasci.

— Talvez imprevisão na montagem das peças. Não lhe posso dizer nada sem observação de trinta dias e a desmontagem geral. As cabeças como os relógios para regular bem...

Antenor atalhou:

— E o senhor fica com a minha cabeça?

— Se a deixar.

— Pois aqui a tem. Conserte-a. O diabo é que eu não posso andar sem cabeça...

— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe uma de papelão.

— Regula?

— É de papelão! explicou o honesto negociante. Antenor recebeu o número de sua cabeça, enfiou a de papelão, e saiu para a rua.

Dois meses depois, Antenor tinha uma porção de amigos, jogava o pôquer com o Ministro da Agricultura, ganhava uma pequena fortuna vendendo feijão bichado para os exércitos aliados. A respeitável mãe de Antenor via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porem, estimavam-no, e os companheiros tinham garbo em recordar o tempo em que Antenor era maluco.

Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Maria Antônia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. Outras Marias ricas, de posição, eram de opinião da primeira Maria. Ele só tinha de escolher. No centro operário, a sua fama crescia, querido dos patrões burgueses e dos operários irmãos dos spartakistas da Alemanha. Foi eleito deputado por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — a quem atacou logo, pois para a futura eleição o presidente seria outro. A sua ascensão só podia ser comparada à dos balões. Antenor esquecia o passado, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente.

Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País do Sol estavam na dificuldade de concordar no nome do novo senador, que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Antenor era cotado. Então Antenor passeava de automóvel pelas ruas centrais, para tomar pulso à opinião, quando os seus olhos deram na tabuleta do relojoeiro e lhe veio a memória.

— Bolas! E eu que esqueci! A minha cabeça está ali há tempo... Que acharia o relojoeiro? É capaz de tê-la vendido para o interior. Não posso ficar toda vida com uma cabeça de papelão!

Saltou. Entrou na casa do negociante. Era o mesmo que o servira.

— Há tempos deixei aqui uma cabeça.

— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.

— Ah! fez Antenor.

— Tem-se dado bem com a de papelão? — Assim...

— As cabeças de papelão não são más de todo. Fabricações por séries. Vendem-se muito.

— Mas a minha cabeça?

— Vou buscá-la.

Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.

— Consertou-a?

— Não.

— Então, desarranjo grande?

O homem recuou.

— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das idéias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.

Antenor ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.

— Faça o obséquio de embrulhá-la.

— Não a coloca?

— Não.

— V.EX. faz bem. Quem possui uma cabeça assim não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.

Mas Antenor era prudente, respeitador da harmonia social.

— Diga-me cá. Mesmo parada em casa, sem corda, numa redoma, talvez prejudique.

— Qual! V.EX. terá a primeira cabeça.

Antenor ficou seco.

— Pode ser que V., profissionalmente, tenha razão. Mas, para mim, a verdade é a dos outros, que sempre a julgaram desarranjada e não regulando bem. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique V. com ela. Eu continuo com a de papelão.

E, em vez de viver no País do Sol um rapaz chamado Antenor, que não conseguia ser nada tendo a cabeça mais admirável — um dos elementos mais ilustres do País do Sol foi Antenor, que conseguiu tudo com uma cabeça de papelão.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cavalos à la Rousseau - Antropologia e Meio Ambiente I

A partir de agora, começo a desenterrar alguns trabalhos feitos para a faculdade que acho que cabem bem neste blog. Para começar, parte de um trabalho feito para a disciplina de Antropologia e Meio Ambiente, do IFCH-Unicamp, ministrado pela profª Nádia Farage (monitoria de Rafael Barbosa), no 1º semestre de 2010.

***
PS: Cliquem na legenda das imagens para verem os quadros em um tamanho decente!

Napoleão no campo de batalha de Eylau, 1807. Antoine-Jean Gros, 1808, Óleo sobre tela, 521 X 784 cm. Museu do Louvre, Paris, França 

Batalha de Austerlitz, 02 de dezembro de 1805. François Gerard, 1810, Óleo sobre tela, 510 X 958 cm. Musée National du Château, Versailles, França

O quadro de Antoine-Jean Gros, pintado em 1808, representa Napoleão Bonaparte no campo de batalha de Eylau na Polônia, onde, em fevereiro de 1807, o exército francês derrotou o russo em um choque sangrento que deixou mais de 50.000 feridos e mortos. Como não era raro, o quadro foi feito sob encomenda pelo governo francês, a partir da escolha do artista via competição. (MUSÉE DU LOUVRE, 2010)
O que nos cabe assinalar nesse quadro é como ele está embebido em uma atmosfera que vai ao encontro do Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Como se sabe, esse ensaio foi realizado para um concurso da Academia de Dijon em 1754, e previa que os concorrentes respondessem a seguinte questão: Qual é a origem da desigualdade entre os homens, e é ela autorizada pela lei natural? O texto de Rousseau não foi vencedor da competição e não agradou os jurados, sendo, no entanto, publicado pelo autor em 1755.
Nossa hipótese é de que a obra de Gros dialoga inteiramente com o escrito de Rousseau, por trazer em seu bojo uma temática que se foca na piedade. O quadro foi feito com cores escuras, em uma atmosfera de luto, onde como protagonista figura Napoleão Bonaparte altivo e misericordioso visitando o campo de batalha. O semblante de Napoleão é sério, e alguns comentaristas dizem que o imperador, estando em Eylau, teria exclamado: “Se todos os reis da terra pudessem ter essa visão, eles seriam menos propensos às guerras e conquistas” (NAPOLEON.ORG, 2010). O quadro é construído de forma a mostrar o horrível resultado das batalhas humanas, e a altivez francesa de portar-se piedosa diante dos acontecimentos. Não existe uma comemoração frente aos restos humanos ou cossacos agonizantes que resultam do combate, mas uma resignação pesarosa. Alguns soldados franceses visam ajudar combatentes russos feridos, que estranham o acontecido, como é possível ver principalmente pela dupla no campo direito do quadro. O cavalo em que monta Napoleão, por sua vez, traz em seu semblante um choque de repugnância frente ao cenário já descrito por Rousseau (1973, p. 259), e outras vezes figurado pelo artista – como, por exemplo, no quadro A Batalha de Abukir, de 1806.
O quadro exprime pela simbiose de sentimento entre os animais e humanos presentes a piedade como elo entre natureza e cultura:

Certo, pois a piedade representa um sentimento natural que, moderando em cada individuo a ação do amor de si mesmo, concorre para a conservação mútua de a espécie. Ela nos faz, sem reflexão, socorrer aqueles que vemos sofrer; ela, no estado de natureza, ocupa o lugar das leis, dos costumes e da virtude, com a vantagem de ninguém sentir-se tentado a desobedecer à sua doce voz; ela impedirá qualquer selvagem robusto de tirar uma criança fraca ou a um velho enfermo a subsistência adquirida com dificuldade, desde que ele mesmo possa encontrar a sua em outra parte; ela, em lugar dessa máxima sublime da justiça raciocinada – Faze a outrem o que desejas que façam a ti -, inspira a todos os homens esta outra máxima de bondade natural, bem menos perfeita, mas talvez mais útil do que a precedente – Alcança teu bem com o menor mal possível para outrem. Numa palavra, antes nesse sentimento natural do que nos argumentos sutis deve procurar-se a causa da repugnância que todo homem experimentaria por agir mal, mesmo independentemente das máximas da educação. (ROUSSEAU, 1973, p. 260).

O quadro, desta maneira, consegue condensar o argumento de Rousseau das ambigüidades que rondam o sentimento de piedade. Natural de homens e animais, é a piedade que serve de estopim para a aproximação humana em sociedade, e, portanto, como possibilitadora da cultura. No entanto, sendo o estado de sociedade como o propicio à violência e à degeneração humana, esta condição leva às tristes guerras que, mais uma vez, despertam o sentimento de piedade para com o vencido.
É claro que essa construção do artista também vinha responder a grande impopularidade que o combate de Eylau causara na França, mas, no entanto, ainda sofreu severas críticas por trazer uma visualidade da guerra como cenário negativo.
A singularidade do quadro de Gros pode ser observada quando comparada a outros quadros de batalha, como o de Gerard François, sobre a Batalha de Austerlitz.
Neste quadro, os combatentes não demonstram nenhum incômodo frente aos cadáveres resultantes da guerra, nem os cavalos mostram-se cuidadosos para que em seu galope desviem-se de restos mortais. Aliás, é possível observar o contrário, dois deles estão com suas patas ao alto, na iminência de pisar em soldados vencidos. A atmosfera geral é de alívio e celebração ainda entusiasta frente à batalha recentemente vencida, anunciada pela chegada de raios de sol através de nuvens escuras e a entrega do príncipe Nicolau Repnin à Napoleão.


Fontes específicas:


MUSÉE DU LOUVRE (Comp.). Napoleon on the Battlefield of Eylau. Disponível em: <http://www.louvre.fr/llv/oeuvres/detail_notice.jsp?CONTENT%3C%3Ecnt_id=10134198673225732&CURRENT_LLV_NOTICE%3C%3Ecnt_id=10134198673225732&FOLDER%3C%3Efolder_id=9852723696500815&baseIndex=45&bmLocale=en>. Acesso em: 25 maio 2010.

NAPOLEON.ORG (Comp.). KEY PAINTING - FIRST EMPIRE. Disponível em: <http://www.napoleon.org/en/essential_napoleon/key_painting/premier_empire.asp>. Acesso em: 25 maio 2010.

WIKIMEDIA COMMONS. The Battle of Abukir. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gros_-_The_Battle_of_Abukir.png>. Acesso em: 15 jun. 2010.

WEB GALLERY OF ART (Comp.). Napoleon Bonaparte on the Battlefield of Eylau, 1807. Disponível em: <http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/g/gros/7eylau.html>. Acesso em: 25 maio 2010.

ROUSSEAU, Jean Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. In: ROUSSEAU, Jean Jacques. Jean Jacques Rousseau: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 207-326.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os nuer do sul do Sudão

Para quem se aventura nos estudos antropológicos, é caminho incontornável a leitura do clássico "Os Nuer: Uma descrição do modo de subsistência e das instituições políticas de um povo nilota" de Evans-Pritchard, escrito a partir de pesquisas de campo do autor no período que vai de 1930 a 1936. As razões de tamanha importância são várias, e entre elas podemos assinalar o esforço em compreender - e construir - uma 'estrutura social' específica, de forma a trazer para o leitor insights do modo de vida e de visão de mundo dos nuer. E tudo isso, feito de forma clara e verossímil, o que não é de pouca importância.

Está claro que, depois da década de 1930, e do estudo de Evans-Pritchard, essas pessoas - os nuer - não desapareceram, e bem, até aí, nenhuma novidade lógica. No entanto, se elas não desapareceram, como elas estão? Em 1996 foi publicado pela University of California Press o livro: "Nuer Dilemmas: Coping with Money, War, and the State", de Sharon Hutchinson, hoje professora da Universidade Wisconsin-Madison (currículo e outras informações aqui), que respondeu parte dessas questões. Diferentemente do trabalho de EP, que na ocasião de seu estudo analisou as incursões árabes pelo território nilota como algo de pouca importância para se entender a lógica local, Hutchinson destaca como central para compreender a dinâmica social nuer  a relação estabelecida entre o norte e o sul do Sudão. Afinal, desde a pesquisa de Evans-Pritchard o domínio colonial anglo-egípcio havia se esfacelado (1898 - 1955), e o país passara por dezessete anos de guerra civil intensa (1955-1972). Assim, na 'boca do povo nuer' não estavam mais diferentes assuntos que rodeavam vacas, bois e atividades pastoris, mas sim, discussões sobre política nacional, movimento de tropas armadas na região, o petróleo abaixo dos pés etc. É neste novo cenário que a antropóloga faz seu estudo.

Estudo este que já faz mais de quinze anos e a pergunta então retorna: como estão os nuer, hoje? Quem procurar informações sobre o tema nos jornais brasileiros fica na mesma: as notícias veiculadas sobre o Sudão são poucas e superficiais. Em 2001, Beatriz Perrone Moisés escreveu um artigo sobre os conflitos recentes na região, mas  o texto já completa 10 anos, e embora estejamos cientes que no início deste ano (2011) o país passou por um plebiscito que votou a independência da região sul do país, ainda ficamos  carentes de informações mais atualizadas.

Neste sentido, listei alguns sites que podem ajudar aos interessados  a saber novas informações. Embora a partir delas não possamos saber como estão 'os nuer', podemos ter um vislumbre da situação sudanesa em geral, o que é melhor do que nada:

- O site mais didático que encontrei é o do jornal The New York Times, em inglês. Em uma página que reúne informações e reportagens sobre o país, é explicado o movimento de independência do sul sudanes com ajuda de fotos, infográficos e vídeos. É o site que mais vale a pena visitar, para se informar rapidamente sobre a situação na região.

- Outro site, em francês, é o da TV5. A TV5 possui programas exclusivamente voltados para o continente africano, inclusive um telejornal diário, que pode ser visto online. No entanto, as informações sobre o sul do Sudão não estão tão bem sistematizadas como no site do The New York Times.

- Por último, o portal South Sudan News Agency, exclusivamente voltado para assuntos da região.

Bom proveito!

Jornal online - TV Cultura

Fica a dica: o Jornal da Cultura tem o diferencial de trazer, durante toda a semana, dois ou mais convidados que comentam as notícias veiculadas pelo programa. Isso faz com que as reportagens sejam relativizadas, contextualizadas, criticadas, ampliadas, e até mesmo contestadas para o telespectador, que então vê-se com um leque mais amplo de subsídios para formar sua própria opinião sobre o que está sendo transmitido. 
O Jornal também teve a feliz idéia de colocar todo o seu conteúdo, na íntegra, na internet. Então, para os interessados que não podem ver o programa ao vivo, ele está totalmente acessível na rede: http://www.tvcultura.com.br/jornal-da-cultura/

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

apenas encaminhando uma reportagem do Estadão - ótima notícia

O Street View dos museus

Por Agências
Vista virtual do MoMA, em Nova York. FOTOS: REPRODUÇÃO
Os amantes da arte ganharam a partir desta terça-feira, 1º, uma ferramenta imprescindível: o Art Project, iniciativa do Google para permitir o acesso pela internet à uma coleção única de obras de arte de 17 dos principais museus do mundo, com uma qualidade de imagem excepcional e a possibilidade de interação.
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O site www.googleartproject.com é a página em que os internautas poderão visitar determinadas salas de exposição dos museus, cada uma com quadros de sua coleção que podem ser vistos com uma resolução única.
Vista virtual da Tate Britain, em Londres.
O Metropolitan Museum of Art, o Hermitage, o palácio de Versalles, o holandês Rijksmuseum, a Tate Gallery, o Reina Sofía e o Thyssen estão entre as instituições que colaboraram com este projeto, que permite ainda fazer uma visita virtual, com visão em 360 graus, pelas galerias dos museus graças à uma tecnologia semelhante à usada para fazer o mapeamento de ruas para o Street View.
Obras como “Noite estrelada” (Van Gogh), do MoMA de Nova York, “A garrfa de anis del mono” (Juan Gris), do Reina Sofía em Madri, “A aparição do Messias” (Alexander Ivanov) da Galeria Tretiakov em Moscou, ou “O Nascimento de Vênus” (Sandro Botticelli) da Galeria de Uffizi, podem ser vistas com um detalhe minucioso.
O Google reproduziu as imagens com uma resolução de 7 bilhões de pixels (uma qualidade mil vezes maior do que a das câmeras digitais convencionais), o que permite observar as obras com uma visão microscópica dos detalhes dos traços.
Além das pinturas mais detalhadas, é possível ver outras milhares de obras pregadas nas paredes dos museus, acompanhadas de explicações em vídeos do YouTube de três minutos feitos por especialistas.
O projeto foi apresentado na galeria Tate Britain, cujo diretor, Nicholas Serota, destacou que o Art Project “dá uma oportunidade incomparável a todo o nosso público para se aproximar de grandes obras de arte”.
O vice-presidente tecnológico do Google para a Europa, África e Oriente Médio, Nelson Mattos, considerou que se trata de “um grande passo na forma em que as pessoas interagem com estas maravilhosas peças de arte” e acrescentou que a ferramenta facilitará o acesso à arte para milhões de pessoas que não podem visitar um museu.
Vista virtual do museu Reina Sofía em Madri.
O projeto beneficiará, entre outros, “milhões de crianças que provavelmente nunca terão a oportunidade de ver estas grande obras de arte pessoalmente” e, na opinião de Mattos, será um incentivo a mais para despertar a curiosidade para conhecer as pinturas fisicamente.
Mattos assegurou que o Art Project será ampliado com o tempo e deve chegar a outros museus importantes que ainda não estão na lista — entre os mais renomados estão o Louvre e o Prado.
Amit Sood, o diretor do projeto, não quis entrar em detalhes sobre as razões pelas quais esses museus ficarem de fora do projeto inicialmente, mas afirmou que “a porta continua aberta”.
O buscador, que financia integralmente o projeto, conseguiu colocá-lo em prática em um ano e meio graças à participação de um grupo de seus trabalhadores que usaram 20% do seu tempo de trabalho para outros projetos, uma conhecida iniciativa do Google para incentivar os funcionários.
Um desses trabalhadores é Clara Rivera, responsável por marketing e produtos do Google na sede em Mountain View, na Califórnia, e cujo amor pela arte a levou a embarcar em uma aventura de desenvolver a ferramenta e cordenar os trabalhos para capturar as imagens de alta resolução dos 17 museus.
Miguel Ángel Recio, diretor gerente do museou Thyssen, em Madri, se mostrou muito satisfeito com o produto e ficou convencido de que, ao contrário de manter as pessoas distantes dos museus, o Art Project servirá para estimular novas visitas e atrair “outro tipo de usuários”.
“Para nós, é muito positivo porque servirá para atrair pessoas que até agora não nos conheciam”, disse Recio.
/ Fernando Puchol (EFE)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Softwares livres

No site do Comitê Gestor de Software Livre, do Governo do Estado do Ceará (http://softwarelivre.ceara.gov.br/) existe uma lista super prática de correspondentes em software livre  de softwares proprietários. Isso facilita muito quando você não está familiarizado com o assunto e já está ficando incomodado em utilizar Photoshop, Dreamweaver, Nero, Adobe e outros programas da vida, sabendo que deve existir algum similar em software livre...
Pois bem, aí está: LINK AQUI

Painéis dos presidentes - site do Estadão

Muito bacana o recurso do jornal O Estado de São Paulo que descobri hoje, na internet.
Eles estão elaborando um painel  com informações sobre todos os presidentes do Brasil, ou seja, desde o Marechal Deodoro da Fonseca até Dilma Roussef. Desta forma, colocam pequenos resumos sobre a contribuição de cada presidente para a economia, política e cultura do país.
Interessante, neste sentido, a disponibilização de links para outras fontes que falam dos presidentes, e as imagens que ilustram o painel!
Vale muito a pena fuçar e lembrar um pouco das aulas de história: http://www.estadao.com.br/especiais/de-deodoro-a-dilma,128452.htm#bb-md-noticia-tabs-1